Ato em defesa da vida contra a volta às aulas pede que o segundo semestre seja usado para estruturar as escolas e garantir um retorno seguro
São Paulo – Contra uma volta às aulas insegura e precipitada na cidade de São Paulo, ex-secretários da educação, médicos, professores e famílias se uniram ontem (4) em ato virtual em defesa da vida dos estudantes, familiares e dos profissionais da educação. Preocupados com a forma como as aulas serão retomadas e o risco de uma explosão de casos de covid-19, os participantes destacaram que é mais urgente garantir uma boa estrutura, preparar as escolas e orientar os profissionais da educação durante o próximo semestre. E que será preciso garantir muito mais recursos para que essas ações sejam efetivadas.
O também ex-secretário da Educação Cesar Callegari (2013-2015) se manifestou contra a volta às aulas e ressaltou que a educação vai precisar de muito mais dinheiro para garantir uma volta segura. “Se eu estivesse como secretário nós jamais faríamos a retomada das aulas esse ano. A retomada das atividades escolares vai custar mais dinheiro do que o comum. A cidade de São Paulo perdeu impostos e taxas na casa de 20%. Se a educação não for protegida, deve perder cerca de R$ 2 bilhões. Temos que trabalhar com a ideia de irredutibilidade dos recursos da educação. O orçamento para o próximo ano precisa considerar isso”, disse.
O ato foi organizado pelo vereador Antonio Donato (PT), que defendeu o adiamento da volta às aulas até 2021. Defendemos que esse semestre seja de preparação das escolas. De reorganização sanitária. Precisa de tempo, precisa de investimento. E também de preparo dos professores e outros profissionais da educação. Todo o tempo do aprendizado é um tempo recuperável, mas a vida não. Precisamos dar uma chance à vida e se abrirmos as escolas vamos dar uma chance para o vírus fazer mais vítimas”, disse.
Kézia Alves, do Conselho de Representantes dos Conselhos de Escola (Crece), destacou que as famílias de estudantes também são majoritariamente contra a volta às aulas. E que a discussão devia ser sobre a situação das famílias. “Devia estar discutindo a garantia de alimentação, a garantia de acesso ao ensino remoto, como cuidar das crianças que estão psicologicamente abaladas. Estamos exaustos de falar que não queremos essa volta às aulas. E o governo não escuta. Falamos em lives, falamos em audiências públicas, mas não adianta”, afirmou.
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Reafirmando a preocupação com a saúde de toda a sociedade com uma eventual volta às aulas, o médico sanitarista Gonçalo Vecina e o pediatra Antônio Carlos Madeira, diretor do Hospital Menino Jesus, também se posicionaram contra a medida. “O momento não é de se pensar em abrir escolas. Tem que deixar as escolas fechadas e trabalhar muito firmemente para organizar as escolas com segurança para crianças e seus familiares. Precisa se pensar de modo sério e muito consequente em como poderemos fazer a reabertura das escolas”, disse Madeira.
“Praticamente não temos registro de mortes de criança. A pandemia mata duas pessoas a cada mil até 40 anos. Mas a partir dos 80 anos, mata 10 a cada cem. As crianças saem de casa e vão para escola, trocam material biológico entre elas e voltam para casa. E as pessoas ficam doentes em casa. O isolamento social deu certo porque elas estão em casa. Quando elas voltarem às aulas serão naturalmente disseminadoras de vírus, bactérias, que é o natural da vida. Se voltarmos as aulas vamos ter explosão de casos de covid-19 e de outras doenças típicas do inverno. Eu não abriria as escolas, eu não correria o risco de abrir as escolas. Não pelas crianças, mas pelos familiares das crianças”, afirmou Vecina.
Compra de vagas
Os representantes dos trabalhadores da educação também se manifestaram contra a volta às aulas e reclamaram da falta de transparência e de receptividade do governo do prefeito Bruno Covas (PSDB). Margarida Prado Genofre, vice-presidente da Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais de São Paulo (Aprofem) ressaltou que as escolas não têm condições de garantir a segurança de estudantes, professores e famílias. “Eu conheço as escolas. Sabemos que não há condições de retomar as atividades presenciais nas escolas neste momento. Isso se quiser se preservar vidas. Se não quiser, é só abrir as escolas”, afirmou.
O ato também marcou posição contra o Projeto de Lei (PL) 452/2020, de autoria do governo Covas, que estabelece condições para a volta às aulas. O projeto já foi aprovado em primeira votação e deve ser votado novamente nesta quarta-feira (5). O principal problema apontado é a possibilidade de a prefeitura comprar vagas na rede particular de educação infantil. A oposição e os trabalhadores apontam que o objetivo é apenas salvar a rede privada e que isso vai tirar dinheiro fundamental da rede pública. O PL também prevê reposição de aulas, aprovação automática dos alunos, aumento da contratação de profissionais temporários, auxílio para compra de uniformes e material escolar.
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