Campanhas salariais

Trabalhadores dos bancos, Petrobras e Correios lutam por reajustes e emprego

Sindicalistas enfrentam duras negociações, combatem fortemente propostas de retirada de direitos e até de reajuste zero

Roberto Parizotti/CUT

Rosely Rocha e Marize Muniz, da CUT

 As grandes empresas, os bancos e estatais como a Petrobras e os Correios, apesar dos lucros, tentam colocar nas costas do trabalhador e da trabalhadora a conta pela crise econômica que o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) e o mercado financeiro não conseguem resolver, endurecendo as negociações nas campanhas salariais, propondo o corte de dezenas de benefícios conquistados, reajuste zero, ameaças de privatizações e demissões.

Do outro lado das mesas de negociações, os representantes dessas grandes instituições encontram bancadas de sindicalistas extremamente preparadas para os embates e, se preciso for, paralisar as atividades das maiores empresas e bancos do país para impedir demissões, cortes de direitos e conquistar aumento real de salário.
A campanha salarial dos Correios é uma das primeiras que pode levar a categoria à greve para garantir os direitos conquistados e os empregos.
Os petroleiros ainda não discutiram paralisação mas a luta contra o reajuste zero proposto pela Petrobras e as tentativas de acabar com direitos vão ter resposta a altura. No ano passado a categoria fez uma grande greve contra descumprimento do acordo coletivo, como demissões em massa decorrentes do programa de demissão voluntária e privatização de subsidiárias, insegurança nas plataformas por conta da redução das equipes e também o alinhamento dos preços dos combustíveis ao mercado internacional e dólar.
Os bancários conseguiram impedir demissões durante a pandemia do novo coronavírus e agora lutam novamente pela manutenção do emprego, aumento real e melhores condições de trabalho.
Confira como estão as negociações dessas três categorias:
Negociação com os Correios
Contra a privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e por melhorias nas condições de trabalho, os trabalhadores da estatal estão lutando há há alguns meses, e nesta segunda-feira (17), realizam assembleia-geral para decidir pela deflagração da greve nacional a partir da zero hora do dia 18 de agosto. 
A greve é motivada pelo descaso da direção da empresa que simplesmente se recusa a negociar e retirou 70 das 79 clausulas protetivas dos trabalhadores.
“As negociações começaram em julho e a nossa data-base é 1º de agosto, mas a nossa luta vem desde o ano passado quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli , aceitou uma ação da direção dos Correios impedindo a renovação por dois anos de uma sentença do TST [Tribunal Superior do Trabalho] favorável aos trabalhadores”, conta Amanda Corsino, Secretária da Mulher da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect).
Segundo a dirigente nesta sexta (14) começou no STF o julgamento da decisão de Tofolli , por isso a categoria está alerta e pede pela ajuda de todos os trabalhadores.
“Várias categorias estão próximas as suas data-base, mas a nossa será a primeira a sair em greve. Por isso, é importante ter o apoio das demais entidades. Se formos bem sucedidos e mantivermos nossos direitos , impulsionará as demais categorias à luta. Se não formos bem sucedidos pode intimidar os demais trabalhadores que passarão pelo mesmo processo”, alerta Corsino, que também é presidenta do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Distrito Federal e em torno (SINTECT/DF).
Negociação com a Petrobras
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) também enfrenta uma dura negociação com a Petrobras. A atual gestão da petroleira quer zerar o reajuste dos trabalhadores na data-base (1º de setembro ), além de rebaixar direitos que estão em cláusulas referentes a adicional, horas extras, estabilidade no emprego e regulamentação do teletrabalho.
A categoria defende que o atual acordo seja prorrogado até 31 de dezembro, data que termina o estado de calamidade pública decretado em função da pandemia do novo coronavírus e depois renovado por mais dois anos.
Os petroleiros reivindicam um reajuste salarial com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede o índice oficial da inflação no país, estimado até a data base em 2,3%, mais aumento real de 2,2%, para recompor as perdas inflação de 2016 a 2019.
“Mesmo com as tentativas da gestão bolsonarista do atual presidente da Petrobras, Castelo Branco, de congelamento salarial, redução de direitos e ataque à organização sindical, os trabalhadores não se curvarão. As assembleias têm rejeitado as propostas da empresa em todas as bases por quase unanimidade”, afirma Tezeu Bezerra, coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro/NF).
Num momento de pandemia em que mais os trabalhadores e aposentados precisam de assistência médica, a direção da Petrobras propõe ainda que os trabalhadores paguem mais pelo plano de saúde. A ideia dos gestores da empresa é entregar a Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS) para uma associação privada e ao mesmo tempo, aumentar de 30% para 40% a participação dos petroleiros no custeio médio. O aumento para os beneficiários pode ficar em 143% e chegar a 1.422% em alguns casos, penalizando os menores salários e a maiores faixas de idade, denuncia a FUP.paulo guedes
Os petroleiros estão realizando assembleias que vão até está segunda-feira (17). Ainda falta a decisão dos  trabalhadores do Norte Fluminense, Caxias ( ambos no Rio de Janeiro), Rio Grande do Sul, Amazonas e Ro Grande do Norte.
Até agora deliberaram contra a proposta da empresa os trabalhadores das bases dos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Negociação com os bancos
Os representantes dos bancários, tanto dos bancos privados como públicos, conquistaram no início da pandemia, a interrupção das demissões nas instituições.
Houve uma redução de 58% dos desligamentos em abril e maio, em relação ao primeiro trimestre do ano, mas mesmo assim os bancos demitiram, principalmente o Santander que, no segundo trimestre deste ano, em plena pandemia, registrou o corte de 844 postos de trabalho. 
Agora, a luta é garantir empregos, direitos s reajuste salarial na dura campanha da categoria.
“Nossa reivindicação é pela manutenção do emprego, aumento real e melhores condições de trabalho”, diz Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Bancos têm lucros bilionários  
Apesar do lucro dos maiores bancos brasileiros (somente o primeiro trimestre de 2020 somou R$ 18 bilhões), entre janeiro de 2013 e dezembro de 2019 houve redução de 70 mil postos de trabalho no país. Os cinco principais bancos fecharam 11,5 mil postos de trabalho em apenas 12 meses (período entre o primeiro trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020).
“Embora seja o setor mais rentável da economia, os bancos dão um péssimo exemplo para o país ao cortarem postos de trabalho”, diz Ivone.
O Comando Nacional dos Bancários já realizou cinco rodadas de negociações virtuais sobre teletrabalho, emprego, saúde e condições de trabalho, igualdade e cláusulas sociais e econômicas.
A próximas rodada com tema a ser definido está marcada para o próximo dia 18 (terça) entre 11h e13h.
Nos dias 20, 21, 25, 26, 27 e 28 de agosto serão discutidos pontos pendentes das mesas anteriores.
Escrito por: Rosely Rocha e Marize Muniz, da CUT