Mas isso pode custar caro, tanto para ele, como para as instituições norte-americanas. Trump levantou, inclusive, a possibilidade de ocorrência de fraude na apuração dos votos pelo correio. Anunciou, ainda, que pretende se declarar como vitorioso ainda na noite de hoje, caso esteja à frente nas apurações.
O candidato democrata, Joe Biden, reagiu, dizendo que “o presidente não vai roubar esta eleição”. E essa provável judicialização deve impedir que qualquer resultado oficial seja divulgado rapidamente. Esse ataque às instituições é algo inédito nas história política norte-americana.
“O que Trump está fazendo é mais do que extremismo. De certa forma, é um ataque às instituições fundadoras dos Estados Unidos. Isso, obviamente, tem um preço. É um estímulo muito perigoso”, afirmou Nasser em entrevista ao Jornal Brasil Atual.
Estados decisivos
Nos Estados Unidos, a escolha do novo presidente é feita de forma indireta pelos 539 delegados que formam o colégio eleitoral. Os estados das costas Leste e Oeste votam tradicionalmente nos democratas. Enquanto os estados do meio-oeste preferem os republicanos. Portanto, as eleições devem ser definidas nos chamados estados-pêndulo, sem posição historicamente definida. Ou nos “estados decisivos”, como destaca o professor.
É o caso, por exemplo, do estado da Flórida, que tem 29 delegados. Pensilvânia (com 20 delegados), Michigan e Georgia (com 16 cada) e Carolina do Norte (com 15) são algumas unidades da federação que podem definir a eleição. Até mesmo o Texas, tradicional reduto republicano, entrou na disputa, com leve dianteira do candidato Joe Biden. “Se Biden ganhar no Texas, é bem provável que seja o próximo presidente.”
Diferenças, semelhanças e consequências
Apesar da polarização, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP destaca que, em determinadas assuntos, as diferenças entre democratas e republicanos são menores do que se imaginam. No comércio internacional, por exemplo, os democratas são considerados mais protecionistas. Contudo, foi Trump quem estabeleceu barreiras alfandegarias para diversos produtos, elevando a taxação sobre o aço brasileiro, por exemplo.
Na questão ambiental, aumentam as divergências entre os partidos. Enquanto os republicanos negam os efeitos do aquecimento global, os democratas apoiam a transição da matriz energética dos Estados Unidos para fontes renováveis. Na pauta dos costumes, os republicanos são contra o aborto e a expansão de direitos para minorias sexuais, enquanto os democratas apoiam esses grupos.
Bolsonaro na corda-bamba
Portanto, para o presidente Jair Bolsonaro, bem como para os demais líderes da direita conservadora pelo mundo, uma vitória eventual de Joe Biden deve enfraquecer suas posições.
“Bolsonaro e seus filhos, nas suas declarações e pronunciamentos, se ancoram fortemente no Trump. Assim como fazem aqui, tem a direta na Índia, na Hungria. Então esse espectro da extrema-direita vai sair enfraquecido, sem dúvida nenhuma. Se isso acontecer, quer dizer nada mais nada menos que a grande potência está mudando de rumo”, afirmou Nasser.
Matéria escrita por Redação RBA
Assista à entrevista
Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima