'Desespero'

Eleições nos EUA: Trump aposta tudo na polarização, diz especialista

Temor de violência ronda as principais cidades americanas, enquanto Trump promete judicializar a disputa, retardando a apuração

Reprodução/Donald Trump

"Mais do que extremismo": Trump coloca em xeque as instituições norte-americanas

Redação RBA

São Paulo – Os Estados Unidos encerram nesta terça-feira (3) um dos processos eleitorais mais tensos de sua história. Na capital, Washington, e em outras grandes cidades, como Nova York, lojistas passaram os últimos dias colocando tapumes nas fachadas dos seus empreendimentos, temendo a eclosão de conflitos nas ruas, em função dos resultados das urnas. O atual presidente, Donald Trump, que aparece atrás na média das pesquisas das eleições, têm aumentado ainda mais a temperatura da disputa. Segundo Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Trump leva a polarização “ao limite”, como forma de mobilizar seus seguidores.
Mas isso pode custar caro, tanto para ele, como para as instituições norte-americanas. Trump levantou, inclusive, a possibilidade de ocorrência de fraude na apuração dos votos pelo correio. Anunciou, ainda, que pretende se declarar como vitorioso ainda na noite de hoje, caso esteja à frente nas apurações.
O candidato democrata, Joe Biden, reagiu, dizendo que “o presidente não vai roubar esta eleição”. E essa provável judicialização deve impedir que qualquer resultado oficial seja divulgado rapidamente. Esse ataque às instituições é algo inédito nas história política norte-americana.
“O que Trump está fazendo é mais do que extremismo. De certa forma, é um ataque às instituições fundadoras dos Estados Unidos. Isso, obviamente, tem um preço. É um estímulo muito perigoso”, afirmou Nasser em entrevista ao Jornal Brasil Atual.

Estados decisivos

Nos Estados Unidos, a escolha do novo presidente é feita de forma indireta pelos 539 delegados que formam o colégio eleitoral. Os estados das costas Leste e Oeste votam tradicionalmente nos democratas. Enquanto os estados do meio-oeste preferem os republicanos. Portanto, as eleições devem ser definidas nos chamados estados-pêndulo, sem posição historicamente definida. Ou nos “estados decisivos”, como destaca o professor.
É o caso, por exemplo, do estado da Flórida, que tem 29 delegados. Pensilvânia (com 20 delegados), Michigan e Georgia (com 16 cada) e Carolina do Norte (com 15) são algumas unidades da federação que podem definir a eleição. Até mesmo o Texas, tradicional reduto republicano, entrou na disputa, com leve dianteira do candidato Joe Biden. “Se Biden ganhar no Texas, é bem provável que seja o próximo presidente.”

Diferenças, semelhanças e consequências

Apesar da polarização, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP destaca que, em determinadas assuntos, as diferenças entre democratas e republicanos são menores do que se imaginam. No comércio internacional, por exemplo, os democratas são considerados mais protecionistas. Contudo, foi Trump quem estabeleceu barreiras alfandegarias para diversos produtos, elevando a taxação sobre o aço brasileiro, por exemplo.
Na questão ambiental, aumentam as divergências entre os partidos. Enquanto os republicanos negam os efeitos do aquecimento global, os democratas apoiam a transição da matriz energética dos Estados Unidos para fontes renováveis. Na pauta dos costumes, os republicanos são contra o aborto e a expansão de direitos para minorias sexuais, enquanto os democratas apoiam esses grupos.

Bolsonaro na corda-bamba

Portanto, para o presidente Jair Bolsonaro, bem como para os demais líderes da direita conservadora pelo mundo, uma vitória eventual de Joe Biden deve enfraquecer suas posições.
“Bolsonaro e seus filhos, nas suas declarações e pronunciamentos, se ancoram fortemente no Trump. Assim como fazem aqui, tem a direta na Índia, na Hungria. Então esse espectro da extrema-direita vai sair enfraquecido, sem dúvida nenhuma. Se isso acontecer, quer dizer nada mais nada menos que a grande potência está mudando de rumo”, afirmou Nasser.
Matéria escrita por Redação RBA

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima