Servidores da Dataprev desenvolvem site para informar direitos do povo

Apesar da luta contra privatização e por direitos, os trabalhadores e as trabalhadoras da estatal trabalham para melhorar informações sobre os beneficiados do novo auxílio emergencial de forma gratuita

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Érica Aragão, da CUT

Escrito por: Érica Aragão 

Na lista das empresas públicas que poderão ser privatizadas pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) está a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (DataPrev), que acaba de criar uma plataforma digital para ajudar a população mais vulnerável a conseguir seus direitos, com ajuda dos servidores e servidoras, que têm os direitos atacados pelo governo federal.

A estatal é uma das mais importantes do país, pois graças a ela é que foi possível desenvolver a tecnologia responsável pelo pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 pago em 2020 a desempregados e informais, e outros direitos sociais. 

Sem a tecnologia desenvolvida pela DataPrev, responsável pela gestão da Base de Dados Sociais Brasileira, e a parceria do banco público, a Caixa Econômica Federal (CEF), na execução do pagamento, provavelmente os mais de 67 milhões de brasileiros que receberam o auxílio emergencial no ano passado até hoje poderiam estar sem ver um centavo.

Apesar deste trabalho estar ameaçado pela obsessão do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, em privatizar todas as empresas públicas do país com o discurso de que a iniciativa privada é mais eficiente, o que já foi comprovado ser falso, até pela agilidade da Dataprev em resolver como fazer o pagamento do auxílio emergencial. 

Plataforma digital

No site recém-criado, consulta auxilio, basta o trabalhador ou trabalhadora  inserir o nome completo, o número do CPF, o nome da mãe e a data de nascimento para ter acesso ao extrato de benefícios recebidos.

A partir de 1º de abril, a população também poderá saber se terá ao direito ao novo auxílio emergencial  cujo valor varia entre R$150, R$ 250 e R$ 375. Veja abaixo quem terá direito.

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Apesar da desigualdade cada vez maior devido a pandemia, a ideia  é que a empresa cumpra a missão de inclusão social baseada nas decisões do governo. A ferramenta vai unificar e cruzar as informações para que cada cidadão ou cidadã saiba se vai receber o direito ou não.

A DataPrev tem a finalidade de usar a tecnologia a favor da inclusão, assim como qualquer outra estatal, e de forma gratuita. E não é só no auxílio emergencial, a empresa é responsável por todos os dados sociais da população, certidão de nascimento, óbito, jornada no mercado de trabalho, direitos previdenciários, entre outros da vida até a morte da população, conta Socorro Lago, da Coordenação Nacional de Campanha Salarial da DataPrev e Secretária de Mulheres da Federação Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (Fenadados).

“É um cadastro de dados sensíveis e que são usados a favor dos direitos da população”, explicou Socorro, que complementa:“Se esta empresa fosse privada, com certeza, esses serviços seriam cobrados e os dados da população poderiam ser até vendidos para empresas multinacionais, como aconteceu quando as teles foram privatizadas, e até hoje não sabemos direito a história. Com esta quantia de dados nas mãos de empresas privadas, o cidadão ficaria vulnerável e com seus direitos básicos e gratuitos comprometidos”.

Luta contra privatização e por direitos

Enquanto os trabalhadores e as trabalhadoras da DataPrev trabalham para contribuir com a sociedade e com seus direitos, a categoria luta contra a privatização da empresa e por direitos históricos conquistados.

Desde maio de 2020, a categoria, que é responsável por soluções tecnológicas para a população, está em negociação para fechar o Acordo Coletivo de TrabalhoO governo, além de fechar 20 agências da empresa pelo país, demitiu, não quer renovar clausulas históricas da categoria e ainda tirou o plano de saúde em plena pandemia.

“Depois de duas greves, muitas assembleias e conversas com a categoria e a sociedade, estamos negociando outra vez com a direção da empresa para tentar finalizar este processo com vitória dos trabalhadores”, disse Socorro.

Já o presidente da Associação Nacional dos Empregados da Dataprev (ANED), Léo Santuchi,, diz que a luta continua pelo plano de saúde que a empresa quer retirar dos trabalhadores.

“Tem muita gente morrendo e passando por problemas crônicos de saúde neste momento, porque tiveram seus direitos retirados de forma unilateral”, afirma Léo.

A luta dos servidores para ajudar a população a receber o auxílio emergencial

De acordo com Léo Santuchi, como o governo federal não usou a base de dados que a estatal já tinha estruturado antes da pandemia, e preferiu que um novo cadastro fosse feito no Caixa Tem, muita gente recebeu sem precisar, outros que precisavam ficaram sem o benefício, e ainda teve muita fraude.

“O governo negligenciou a base de dados que já tinha, e isso impactou negativamente nos direitos da população. Além disso, não houve um mutirão para cadastrar as pessoas em situação de rua e as vulneráveis que não estão em base de dados nenhuma e estão desamparados, pelo contrário, o governo fechou agências e demitiu trabalhadores num processo de privatização da estatal, o que vai ampliar a vulnerabilidade e pode prejudicar ainda mais a sociedade brasileira com descaso devido ao único desejo do lucro”, disse Léo.

Critérios para receber o novo auxílio

Além do valor do novo auxílio ser bem menor do que o de 2020, mais de 20 milhões de pessoas que receberam os R$ 600 ficarão de fora do benefício neste ano. Os recursos da política social foram reduzidos para R$ 44 bilhões. No ano passado foram R$ 290 bilhões e, por este motivo serão beneficiados apenas 45 milhões de pessoas e não 65 milhões como anteriormente.

Estão aptos a receber o novo benefício famílias e/ou pessoas já incluídas no Cadastro Único (CadÚnico) e do programa Bolsa Família. Para isso é preciso ter renda familiar per capita de até meio salário mínimo (R$ 550) e a renda total que corresponde no máximo a três salários mínimos (R$ 3.300) e ter mais de 18 anos, exceto para mães solo.

Além disso, só um membro da família terá o direito e não pode ter vínculo empregatício, nem ter tido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70, em 2019 , ou rendimentos isentos acima de R$ 40 mil naquele no mesmo ano, e não possuir bens de valor superior a R$ 300 mil.

Estão vetados os residentes médicos, multiprofissionais, beneficiários de bolsas de estudo, estagiários e similares e os cidadãos que recebem qualquer tipo de benefício previdenciário, assistencial ou trabalhista ou de transferência de renda do governo em 2020, com exceção do Bolsa Família e abono salarial, também estão vetados.

SAIBA MAIS

*Edição: Rosely Rocha

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