Kit da morte

Médica é demitida após nebulização de hidroxicloroquina em paciente que morreu

Secretaria da Saúde do AM diz que tratamento não faz parte dos protocolos do Estado. "Tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade"

Reprodução/rede social

Redação CUT

A Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas demitiu a  ginecologista Michelle Chechter, que trabalhava na maternidade Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, por aplicar nebulização de hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, em paciente que morreu horas após o procedimento.

De acordo com nota da secretaria, o procedimento com o medicamento sem eficácia comprovada, segundo vários estudos científicos, não faz parte dos protocolos terapêuticos do Instituto Dona Lindu “nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares”.

A vítima de Manaus, Jucileia de Sousa Lima, técnica de radiologia, tinha 33 anos e havia dado a luz há 27 dias quando morreu. O marido da paciente, Kleison Oliveira da Silva, que estava no hospital cuidando do filho recém-nascido, não foi consultado sobre o tratamento sem eficácia que esposa receberia.

A médica deu um documento para ela assinar autorizando a nebulização e publicou um vídeo nas redes sociais com essa espécie de cerimônia. Foi assim que a família ficou sabendo.

Kit Covid

O tratamento preventivo com o medicamento, também conhecido como ‘kit covid’ porque indica remédios como o Ivermectina, que também não deles funciona contra a Covid-19, recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), é criticado por médicos que comprovaram a piora na saúde dos pacientes que tomaram a medicação, contraíram o vírus depois, e estão chegando aos hospitais em estado grave.

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Morte em Manaus

Segundo a secretaria de Saúde do Amazonas, o procedimento adotado pela ginecologista Michelle Chechter  tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias”.

O comunicado diz também que “tão logo tomou conhecimento do ato, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas determinou abertura de sindicância e o afastamento da profissional”.

A morte da paciente ocorreu em fevereiro, mas somente agora foi tornada pública, segundo o Correio Braziliense.  A secretaria diz que a médica passou a fazer parte da equipe em 3 de fevereiro “após contratação em regime temporário pela secretaria junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde”.

A secretaria afirma que uma outra paciente sobreviveu à nebulização de hidroxicloroquina. “Conforme o instituto informou à secretaria, duas pacientes foram submetidas ao tratamento de nebulização de hidroxicloroquina. Ambas assinaram termo de consentimento, como relatado em prontuário. Uma das pacientes veio a óbito e a outra teve alta. Todas as informações sobre o atendimento estão registradas em prontuário”, afirma a pasta.

O texto diz ainda que a secretaria e o instituto não compactuam com a prática de “qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida e entendem que tais práticas não podem ser atribuídas à unidade de saúde, que tem como premissa o cumprimento da lei e dos procedimentos regulares, conforme os órgãos de saúde pública e os conselhos profissionais”.

A paciente de Manaus não é a primeira a morrer depois de passar por nebulização de hidroxicloroquina. Em março, três pacientes que passaram pelo procedimento morreram durante o tratamento em Camaquã, no Rio Grande do Sul. A nebulização foi aplicada no Hospital Nossa Senhora Aparecida, que, assim como a maternidade de Manaus, informou que o procedimento não faz parte de seus protocolos.

Escrito por: Redação CUT