PREJUÍZO E DESRESPEITO

Absurdo! CPFL quer migração nos Planos de Previdência Vitalícios

Depois de mais de 24 de anos de vitaliciedade nos Planos de Previdência da atual Vivest, a CPFL quer mudar as regras do jogo para prejudicar aposentados e pensionistas. “Somos contra a migração sem negociação e acordo amplo com o Sindicato… E vamos lutar contra qualquer tipo de truculência”, alertam os dirigentes da entidade

Bira Dantas

Lílian Parise

Depois de mais de 24 de anos de vitaliciedade nos Planos de Previdência da atual Vivest, a CPFL quer mudar as regras do jogo para prejudicar aposentados e pensionistas

Não é de hoje que a CPFL quer aprovar no Comitê Gestor (CG) uma proposta muito ruim de Migração dos Planos Vitalícios dos aposentados para um Plano CD (Contribuição Definida). Isso obrigaria a criação de uma conta individual para viabilizar a transferência da Reserva Matemática Individual (RMI) dos atuais Planos Vitalícios (BD, CV e BSPS). Por esse modelo, o aposentado iria consumir gradativamente os valores transferidos para sua conta individual durante o período da aposentadoria.

A Vivest, sucessora da Fundação Cesp, aplicaria os recursos dessa conta no mercado financeiro, com riscos. Mas, segundo a CPFL, se “tudo der certo” com esses investimentos, aposentados consegueriam chegar ao fim da vida sem gastar todo o dinheiro, com a possibilidade de ainda “sobrar” um pouco dessa grana para herdeiros e herdeiras.
Traduzindo: o que a empresa quer fazer é transferir todo o risco para o aposentado, pois, se houver déficit, é ele que vai sentir no bolso a redução do saldo migrado para o novo plano, com a consequente perda de renda mensal.

A CPFL já tentou deliberar essa proposta no Comitê Gestor no ano passado, sem sucesso.“Por conta da complexidade do tema, e por todo histórico envolvido nos planos da Vivest, sobretudo no BSPS, esse tema veio para negociação com o Sindicato. Mas não houve acordo porque a empresa não cumpriu as premissas básicas de garantias, como a de continuar patrocinando o Plano”, alerta a entidade.

Para o Sindicato está claro qual o interesse da CPFL e das patrocinadoras da Vivest. “É o desmonte dos Planos para atender às políticas do atual governo federal, que privilegia o setor bancário e financeiro, desprezando as entidades fechadas de previdência complementar (EFPC), conhecidas como fundos de pensão”.

CONHEÇA A PROPOSTA DA CPFL

CPFL PIRATININGA
Ativos: saldar o PSAP Piratininga e adotar o novo Plano CD, cuja implantação para os novos trabalhadores aconteceu em 2020.
Aposentados: proposta de migração voluntária da parte vitalícia (RMI) de 50% a 100% do total da Reserva dos Planos BD, CV e BSPS para um Subplano CD sem renda vitalícia, que seria substituída por renda de 0,2% a 2% do saldo de conta por mês ou por cotas por um período de 5 a 30 anos.
Pensionistas: só poderão migrar 100%, sem a opção de migração parcial.Quem migrar poderá resgatar até 25% do valor migrado em dinheiro, cujo montante terá incidência de IR (Imposto de Renda).

CPFL PAULISTA, GERAÇÃO E BRASIL
Ativos: no CV, aportes esporádicos e portabilidade não poderão mais ser vitalícios.
Aposentados: proposta de migração voluntária da parte vitalícia (RMI) de 50% a 100% do total da Reserva dos planos CV e BSPS para um Subplano CD sem renda vitalícia, que seria substituída por renda de 0,2% a 2% do saldo de conta por mês ou por cotas por um período de 5 a 30 anos.
Pensionistas: só poderão migrar 100%, não terão a opção de migração parcial. Quem migrar poderá resgatar até 25% do valor migrado em dinheiro, cujo montante terá incidência de IR (Imposto de Renda).

  • Em quaisquer dos casos, a parte da dívida da CPFL que será migrada seguirá o mesmo parâmetro do momento da migração. Porém, se mudar o indexador do plano, isso valerá também para essa dívida migrada.

FIQUE POR DENTRO DA VERDADE DOS FATOS

“Somos contra a migração sem negociação e acordo amplo com o Sindicato… E vamos lutar contra qualquer tipo de truculência”, alertam os dirigentes da entidade

UM POUCO DO HISTÓRICO
Importante lembrar que o BSPS foi saldado em 1997, através de um amplo acordo firmado entre as então empresas estatais CPFL, CESP e Eletropaulo, com o interesse do estado de SP de sanar o Plano Previdenciário para a privatização dessas empresas.

Por esse acordo ficou acertado o saldamento do BSPS e a criação de novos Planos, o CV e o PSAP. Ficou também acertado que as empresas (ou os novos controladores) iriam quitar as dívidas com o saldamento do BSPS, além de assumirem todos os déficits futuros.

Foi feito um Contrato de Confissão de Dívida, com previsão de ajustes anuais de amortização/aportes dos superávits/déficits, com abatimento da dívida se o plano resultasse em superávit e com aumento da dívida caso o plano desse déficit.

CPFL NÃO PAGOU A DÍVIDA. PELO CONTRÁRIO, ROLOU A DÍVIDA TODO ESSE TEMPO
O contrato de dívida da CPFL previa a quitação até 2017. Porém, a CPFL renegociou com a Fundação Cesp a prorrogação do pagamento até 2027, ao término da concessão. Já em 2016, a CPFL renegociou com a Fundação a suspensão do pagamento do principal da dívida por dois anos. “Só enrolação”, define a direção do Sindicato.

DE QUEM É A CULPA DO DÉFICIT?
“A CPFL não pagou a dívida, enrolou, a dívida subiu, e agora querem tirar o couro do aposentado? Lembrando que, durante todos esses anos, o BSPS sempre teve superávits, mas agora, com as dificuldades recentes por conta da situação atual do país, a CPFL quer impor aos trabalhadores uma migração a toque de caixa”, alertam os dirigentes.

MAIS MARACUTUAIS DO PASSADO. MEIO BILHÃO DE PREJUÍZO
Também é fato que a CPFL foi autuada pela Receita Federal por abatimento indevido do pagamento da divida com o BSPS no lançamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e CSLL em 1998, pois lançou o abatimento de uma só vez.

A Receita Federal autuou a CPFL e a dívida hoje soma mais de R$ 520 milhões em uma ação em andamento nos Tribunais superiores. Parece que a CPFL agora quer abater parte dessa dívida com o dinheiro dos aposentados.

CHINESES OPTARAM POR ROLAR DÍVIDA… SE DERAM MAL
Quando da aquisição da CPFL pela State Grid, em julho de 2016, a dívida da CPFL com o BSPS estava em torno de R$ 600 milhões. Tinham a opção de quitar a dívida, o que não foi feito.

E hoje, por conta da queda expressiva da Taxa de Juros (Selic) e do aumento extraordinário da inflação pelo IGP-DI, provocado principalmente pela desvalorização da nossa moeda após 2017, o déficit do BSPS beira os R$1,8 bilhão. Nesse cenário, a única certeza é de que a responsabilidade não é dos trabalhadores.

PLANO ESTRATÉGICO APOIADO POR CONSULTORIAS EXTERNAS
Vale repetir que, para o Sindicato, está claro qual é o interesse da CPFL e das demais patrocinadoras da Vivest. “É o desmonte dos planos previdenciários em atendimento às atuais políticas do governo federal, que privilegia o setor bancário e financeiro. Estão de olho no R$ 1 trilhão disponível nos Fundos de Pensão para viabilizar a transferência desses recursos para o setor financeiro” denuncia a entidade.

“O plano real é macabro! A migração é apenas a ponta do iceberg, só o começo de um processo cujo final é a retirada de patrocínio, deixando à míngua aposentados e pensionistas que tanto trabalharam e dedicaram suas vidas e carreiras para ajudar a construir essas empresas e que, hoje, de forma insensível lhes dão as costas”, alertam os dirigentes sindicais.

NÃO À MIGRAÇÃO! SIM À BOA E CONSTRUTIVA NEGOCIAÇÃO
A posição do Sindicato é muito clara. “Somos contra a migração, sobretudo porque um processo como esse não pode acontecer sem ter sido negociado e acordado com o Sindicato. Defendemos uma mesa de negociação, onde possamos debater todos os aspectos relativos aos Planos de Previdência da Vivest, para depois podermos fechar um Acordo Amplo, que contemple principalmente a garantia de continuidade dos patrocínios dos Planos. Porque o Sindicato, mais do que nunca, está com disposição de luta. E vamos lutar de todas as formas contra qualquer tipo de truculência das patrocinadoras”, finaliza a bancada dos trabalhadores.

Por Lílian Parise