Muito caro

Preço do etanol dispara e aumento médio chega a 32% desde o início do ano

Foi-se o tempo em que nem precisava fazer cálculo para trocar o etanol pela gasolina. Na comparação dos dois produtos, em algumas cidades não compensa usar o etanol que está 76% acima do preço da gasolina

Roberto Parizotti (Sapão)

Posto de combustível em São Paulo (SP)

Rosely Rocha | CUT

Os constantes aumentos dos combustíveis têm prejudicado tanto o consumidor que acabou até a vantagem de trocar a gasolina pelo álcool na hora de abastecer o veículo. Em algumas cidades do Brasil, o preço do etanol está 76% acima do preço da gasolina.

De janeiro a maio deste ano, a média nacional de reajustes nos preços dos combustíveis diminuiu a distância entre os preços do diesel, da gasolina e do etanol.

Somente em maio último, a média nacional de reajuste do etanol ficou em 11,08%. Subiu de R$ 3,836 em abril para R$ 4,250 em maio. No mesmo período o diesel foi reajustado em 6,17% e a gasolina: 2,86%.

No acumulado do ano, de janeiro a maio em 2021, o reajuste do etanol bateu em 31,95%. A gasolina subiu 21,25% e o diesel 19,80%. A pesquisa foi feita em 294 postos de combustíveis em todos os estados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) .

Imagem: Edson Rimonatto

A pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis  (Ineep), Carla Ferreira, explica que trocar o etanol pela gasolina só vale a pena quando na comparação de preços o combustível a base de cana de açúcar custar, no máximo, 70% do valor da gasolina, por ela ter a eficiência energética melhor. Só vale a troca, por exemplo, se a gasolina custar R$ 6,00 o litro, o etanol precisa custar R$ 4,20. Hoje a média nacional  dos preços do etanol está em 76% acima dos preços da gasolina. Ou seja, o álcool é cada vez menos atrativo para o consumidor.

“O que se observa em geral é que os preços do etanol acompanham os preços da gasolina. Quando há um aumento geral há uma maximização do lucro e por isso, o preço se mantem na proporção em 70% da gasolina”, diz Carla Ferreira.

Os motivos para esta diferença de preços podem ser o alto do valor do dólar que favorece a exportação do açúcar em vez da produção do etanol, e o não reajuste dos preços da gasolina nas últimas quatro semanas, apesar da Petrobras continua adotando a política de Preço de Paridade de Importação (PPI). Pelo PPI os combustíveis são reajustados de acordo com a variação do mercado global, o que, encarece os combustíveis e todos os produtos que dependem do transporte rodoviário.

Leia mais: Petrobras muda política de reajustes, mas preços dos combustíveis continuam altos

Gaúchos se assustam com disparada de preço do etanol

O consumidor do Rio Grande do Sul tomou um susto ao abastecer seu veículo em maio passado. Com um reajuste de 4,82% em relação a abril, o litro do etanol chegou a R$ 6,595 em algumas bombas de combustíveis. Em média o produto custou para os gaúchos R$ 5,506.

A pesquisadora do Ineep lista alguns motivos que podem ter feito os gaúchos pagarem tão alto pelo litro do etanol, além da alta do dólar que favoreceu as exportações de açúcar em detrimento da produção do álcool.

Segundo ela, o Rio Grande do Sul não é um grande produtor de cana de açúcar como os estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo, maior produtor e o maior consumidor do país. Soma-se a isso a grande estiagem no Sul, o que pode ter prejudicado a produção local, e o valor da cobrança do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] sobre os preços dos combustíveis.

O Rio Grande do Sul está em segundo lugar no ranking de estados brasileiros que incidem um percentual maior de ICMS sobre o etanol, com 30%. O Rio de Janeiro ocupa a primeira posição (32%). São Paulo é o que tem menor incidência na composição de preços (13,3%).

Escrito por: Rosely Rocha | CUT