Sanções econômicas dos Estados Unidos e Europa penalizam povo venezuelano

Na live de lançamento da campanha de solidariedade aos trabalhadores venezuelanos, ministro das Relações Exteriores do país detalhou consequências dos embargos econômicos sofridos pelo pais desde 2015

ROBERTO PARIZOTTI/ JORGE ARREAZA (FACEBOOK)

Andre Accarini

Escrito por: Andre Accarini

A CUT deu início a uma campanha de solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras venezuelanos, oficialmente, na tarde desta terça-feira (29), em uma live transmitida pelas redes sociais da Central e pela TVT. O programa levou ao público a delicada situação pela qual passa o país vizinho.

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, conversou com o chanceler e ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza. Foi ele quem fez um retrato da realidade vivida pela Venezuela, que sofre embargos econômicos de mais 150 países, desde 2015. O bloqueio econômico impede que o país possa negociar com outras nações produtos essenciais para seu desenvolvimento.

A situação da Venezuela chamou a atenção dos brasileiros no início deste ano quando, mesmo enfrentando todas essas dificuldades de produção, o país enviou caminhões com oxigênio líquido para o Brasil, a fim de salvar vidas de pacientes com Covid-19, que agonizavam nos hospitais de Manaus, ond eo produto estava em falta.

E, por causa dos bloqueios econômicos, o país que foi solidário com os brasileiros está enfrentando sérias dificuldades financeiras e técnicas para a manutenção da usina que produz o oxigênio e até mesmo dos caminhões que fazem o transporte – e que foram fundamentais para ajudar o Brasil em um de seus mais graves momentos.

A campanha da CUT, por meio da mobilização de suas entidades filiadas, visa angariar fundos e peças para que os trabalhadores brasileiros possam retribuir a ação humanitária da Venezuela, cujo presidente Nicolás Maduro, ao ter conhecimento da situação de colapso, prontamente determinou que o oxigênio fosse enviado.

Sérgio Nobre, ao saudar Arreaza, destacou o espírito humanitário dos trabalhadores da usina, localizada em Caracas. “Não hesitaram em ser solidários. Foi um gesto belo que o povo brasileiro reconheceu, menos o presidente Bolsonaro”. O presidente da CUT ainda reforçou o compromisso da CUT em trabalhar para levantar os recursos necessários para comprar os equipamentos que a Venezuela precisa.

“É uma grande oportunidade de retribuir a solidariedade e denunciar esse criminoso e irresponsável bloqueio econômico”, disse Sérgio Nobre.

Ao agradecer a inciativa da CUT, Arreaza afirmou que “as classes trabalhadoras dos nossos países, unidas, podem enfrentar qualquer desafio, qualquer agressão, qualquer bloqueio”. 

Os embargos

A Venezuela enfrenta, desde 2015, bloqueios econômicos capitaneados pelos Estados Unidos, que tentam intervir no regime político de esquerda do país vizinho, governado por Nicolás Maduro, classificando-o como “ameaça inusual para segurança interna dos Estados Unidos”.

Ao todo são mais de 150 sanções, sendo 62 duas EUA, nove da União Europeia, cindo do Canadá e mais cindo do Reino Unido.

Jorge Arreaza, respondendo a perguntas de convidados especiais para o programa, contou que o bloqueio é um ataque, uma perseguição financeira que causa enormes prejuízos econômicos e sociais ao país.

“A Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e há medidas coercitivas de vários países que nos impedem de exportar nosso petróleo e importar produtos, inclusive para nossa indústria petrolífera, insumos para nossos laboratórios e até medicamentos”, disse.

O político venezuelano ainda contou que os ganhos com a comercialização do petróleo na Venezuela tiveram uma quebra brutal de 2015 para cá. “Se compararmos 2015 com 2020, de cada 100 dólares, hoje recebemos apenas 1 dólar”.

E tal situação, ele prossegue, afeta a toda a população. “O Estado é grande distribuidor de renda voltada à educação, à saúde, a alimentação, moradia, obras e políticas públicas, transportes. Todos são golpeados”.

Pandemia

Questionado sobre como o país enfrenta o coronavírus, Arreaza contou que o presidente Nicolás Maduro garantiu gratuitamente, desde o início da pandemia, tudo o que era necessário para o tratamento da doença. Também montou um sistema de monitoramento de infectados para que fossem tratados e assim, controlar a pandemia.

O país quase 30 milhões de habitantes, tem 270 mil casos pessoas infectadas e 3.068 mortes por Covid-19. Ou seja, cerca de 0,01% da população. Proporcionalmente, no Brasil, o número é 20 vezes maior.

Como as dificuldades impostas pelos embargos econômicos afetam também a compra de vacinas, a Venezuela recorreu ao imunizante  de parceiros como Cuba, que trabalha no desenvolvimento de cinco vacinas, duas delas já em uso, e da Rússia, que produz a SputinikV.

A Venezuela também negociou a compra de vacinas da China e do consórcio Covacs, mas ainda aguarda a liberação, mesmo já tendo efetuado o pagamento de cinco milhões de doses.

“No caso de não desbloquearem nossa negociação [também devido a embargos econômicos], esperamos receber o dinheiro de volta e então compraremos da China”, diz o chanceler.

Arreaza ainda lamentou que todos os produtos necessários para o enfrentamento à pandemia, para a Venezuela, são mais caros.

“Comprar uma máscara para Venezuela sai três vezes mais caro do que para o Brasil, Colômbia, para qualquer pais. E o mesmo vale para compra de ventiladores, medicamentos, e assim por diante”, disse.

Luta pela sobrevivência

Arreaza contou que o país, aos poucos, tenta se adaptar à realidade do bloqueio econômico, assim como outros países que igualmente sofrem sanções, como Cuba. Trabalhadores estão aprendendo a manufaturar componentes necessários para a manutenção de equipamentos.

“Temos começado a construir nossas próprias soluções, incluindo a indústria petrolífera. Estamos fabricando as peças que somente determinadas empresas dos Estados Unidos e Europa têm e não nos vendem”, diz.

Ele cita que Cuba ‘fez milagres’ ao longo dos anos por causa do embargo e tem demonstrado habilidade de produção, conhecimento tecnológico, cientifico, de desenvolvimento real.

“Eles têm cinco vacinas. A vacina Abdala e a vacina Soberana já estão chegando. Isso se deve ao esforço de Fidel Castro, do General Raul Castro, do presidente Miguel Díaz-Canel e do povo para promover seu desenvolvimento”, afirmou Jorge Arreaza.

Relações internacionais

Reforçando o papel dos trabalhadores na luta pro democracia, Arreaza afirmou que o país nunca confundiu as elites dominantes e governos de outros países com os povos locais.

“Procuramos ter boas relações com todos os governos, inclusive aqueles que tenham divergências com a Venezuela. A relação é direta com o povo também”, ele afirma.

Isso explica o motivo de tão rápido socorro ao Brasil, na crise de Manaus, apesar do governo Bolsonaro, conforme explica o próprio ministro venezuelano, não manter quaisquer relações amigáveis com o país. 

O Brasil, depois de tempos de boa relação, agora nos agride. Nosso objetivo é que o povo do Brasil e Venezuela tenham relações e que possam construir um futuro comum. O povo brasileiro se encarregará de seu governo- Jorge Arreaza

Por tudo isso, reforça Sérgio Nobre, a campanha é um compromisso da classe trabalhadora brasileira com o povo venezuelano, além de alertar para a crueldade dos embargos sofridos pelo país.

Lutamos para ter não só um Brasil, uma Venezuela, mas um mundo melhor e estamos nesse caminho- Sérgio Nobre

A live de lançamento da campanha de solidariedade aos trabalhadores venezuelanos foi mediada pelo secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, e teve, além da participação do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, a contribuição de jornalistas da Rede Brasil Atual, Brasil 247, Opera Mundi, GGN, Brasil de Fato, Barão de Itararé e CartaCapital.

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  • Edição: Marize Muniz

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