Sem rumo

Auxílio Brasil: entre o combate à fome e os interesses do mercado

Diretor do Dieese, Fausto Augusto Junior lamenta que discussão sobre novo programa social tenha ficado subordinada ao Teto de Gastos

Jefferson Rudy/Agência Senado

Substituto do Bolsa Família não tem valores, fonte de financiamento ou critérios definidos, o que demostra o grau de improviso das políticas sociais do atual governo

Redação RBA

São Paulo – Na última hora, o governo Bolsonaro cancelou, nesta terça-feira (19), o lançamento do chamado Auxílio Brasil. A indecisão se deu em função da falta de consenso em relação ao valor do benefício que deve substituir o Bolsa Família, programa que completa 18 anos hoje (20). Além disso, houve reação histérica dos agentes do mercado financeiro, que não aceitam que os gastos com o novo programa ultrapassem o teto de gastos.

“O governo não sabe se prioriza o mercado financeiro ou a questão da fome no Brasil”, criticou o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior. Em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, ele lamentou que a discussão do combate à pobreza no Brasil fique subordinada aos interesses eleitorais de Bolsonaro, de um lado, e do mercado, de outro.

“É muito triste ouvir na mídia tradicional que a principal discussão é o teto de gastos, o mercado financeiro e como essas movimentações em relação aos mais pobres poderia prejudicar o equilíbrio das contas públicas no Brasil. Quando a gente sabe que esse equilíbrio passa muito mais pela taxa de juros e pelos gastos financeiros”, disse Fausto.

Por outro lado, ele destaca que, se os reajustes do Bolsa Família não tivessem sido congelados a partir do governo Temer, os valores pagos aos beneficiários alcançariam a faixa entre R$ 300 e R$ 400, que é o que o governo discute entregar agora.

Cobertor curto

O novo programa deve beneficiar 17 milhões de pessoas, segundo o ministro da Cidadania, João Roma. Contudo, no auge da pandemia, o auxílio emergencial chegou a atender até 68 milhões de pessoas. Fausto destaca que mais de 50 milhões ficarão desassistidas, totalmente expostas ao mercado de trabalho precarizado com desemprego elevado. Diante desse quadro, o diretor do Dieese aponta que o ideal seria avançar para a implementação da Renda Básica de Cidadania, que funcionaria como uma espécie de “colchão” no enfrentamento à pobreza.

Além disso, ele afirma que falta transparência nos critérios a serem adotados no novo programa. Teme ainda que avanços como Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico) sejam postos em risco. “Cabe lembrar que quando falamos de políticas de transferência de renda, não estamos falando apenas de política social. Mas também de política econômica, uma vez que a entrada desses recursos serve para reativar a economia das pequenas cidades e regiões mais pobres”, ressaltou.

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Redação: Tiago Pereira

Por Redação RBA