Sociedade

Censura: Radialista de Campinas denuncia ameaças e cobra por proteção

Por meio da Rádio Noroeste, Jerry de Oliveira é voz ativa na comunidade Vila Boa Vista, trabalho que incomoda algumas pessoas; em setembro, comunicador teve carro cercado e sofreu ameaça de morte

Reprodução redes sociais/arquivo pessoal

Rafael Silva - CUT São Paulo

Criada para ser um instrumento de voz aos moradores do bairro Vila Boa Vista, em Campinas (SP), a Rádio Noroeste completa 8 anos em meio a ataques e tentativas de censura promovidos por grupos alinhados à extrema-direita.

No último dia 9 de setembro, o coordenador da rádio Jerry de Oliveira, de 52 anos, enfrentou uma ameaça que colocou sua vida em perigo. O caso ocorreu quando o comunicador participava da luta pela manutenção das aulas no período noturno na Escola Estadual Reverendo José Carlos Nogueira, também na Vila Boa Vista.

A Rádio Noroeste passou a divulgar os protestos da população na rádio e Jerry, com seu carro e equipamentos de som, passou a circular pela cidade convocando para o ato. Em um desses momentos, o radialista conta que foi abordado por um homem que solicitou que ele parasse o veículo. Logo em seguida, outra pessoa fechou o seu carro com outro automóvel e apontou uma arma de fogo. Um dos suspeitos foi identificado como Lourival Bento.

E as ameaças não pararam. No dia seguinte, um dos homens que o havia cercado publicou vídeo nas redes sociais criticando o posicionamento político da rádio, fez elogios a Jair Bolsonaro (ex-PSL) e proferiu novas ameaças.

Jerry registou boletim no 8º Distrito Policial. A Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) diz que o caso está sob investigação e que os suspeitos foram intimados para prestar esclarecimentos. Na manhã desta quarta (20), viaturas da polícia foram até a residência de Lourival para leva-lo até a delegacia.

Desde o ocorrido, no entanto, Jerry e sua equipe vivem momentos de apreensão, pois os agressores seguem sem nenhum tipo de punição. À CUT-SP, ele conta que passou a sair pouco do local onde fica a rádio. “Estão tratando o caso como se fosse uma briga de vizinhos, enquanto que, na realidade, é uma violação de direitos humanos, ameaça e preconceito. É uma continuidade das ações do gabinete do ódio, que reproduz justamente aquilo que o governo Bolsonaro pensa, do ‘vamos matar a esquerda’, e isso nos deixa apreensivos. Sinto-me, literalmente, acampado dentro da rádio, pois não saio para nada”, lamenta.

A Rádio Noroeste, que faz parte da rede Democracia, um pool com mais de 800 rádios e 200 correspondentes pelo Brasil, é uma parceira de longa data da Central Única dos Trabalhadores, ajudando na repercussão de notícias do movimento sindical, bem como convocando para atos e atividades organizadas pelos sindicatos. Veículos de comunicação popular, como as rádios comunitárias, são considerados canais de resistência, que levam a pauta dos trabalhadores e das trabalhadoras, das lutas dos movimentos sociais e das periferias.  

“Isso é o retrato do Brasil de Bolsonaro, cheio de ódio e intolerância, na qual querem que a voz do povo seja calada ao mesmo tempo em que nos retiram direitos. Nos querem de cabeça baixa e submissos, mas isso não será aceito. A luta pelo fim desse governo perpassa por acabar com atitudes como essas, de ataques aos trabalhadores e as trabalhadoras”, diz o secretário de Cultura da CUT-SP, Carlos Fábio, o Índio, que tem acompanhado o caso pela CUT.

Já o coordenador da subsede da CUT-SP em Campinas, Agenor Soares alerta para o fato dos agressores acreditarem na ausência da lei. “Esse crime contra o nosso companheiro é mais uma demonstração do aprofundamento do fascismo no país. Não é de hoje que o Jerry denuncia injustiças e atrocidades que ocorrem no país, mas desde o golpe (2016) para cá, foram intensificadas as ameaças contra ele e a rádio. Os que fazem isso sabem que perderam o debate e apelam para a violência e ameaças. E o mais grave é que são pessoas que acreditam na impunidade”, diz.

Liberdade de expressão

Não é a primeira vez, no entanto, que ameaças são feitas aos trabalhadores da Rádio Noroeste. Além de Jerry, Cristiane Costa, que atua como diretora, já esteve como alvo dos bolsonaristas, como são conhecidos os defensores do presidente.

Na semana passada, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo manifestou repudio ao ocorrido e cobra providência do governo estadual. “Não podemos admitir ameaças à vida pela manifestação da liberdade de opinião e pela luta pela democracia. O SJSP apela ao Governo do Estado de São Paulo e aos organismos de segurança pública que investiguem com urgência tais ameaças e garantam a integridade física e a vida de Jerry de Oliveira e da diretora Cristiane Costa”, diz trecho da nota.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também emitiu nota sobre o caso, lembrando que essa ameaça se soma a “a tantas outras feitas a jornalistas de Norte a Sul do país, em grande medida como consequência do clima de hostilidade estimulado pelo próprio presidente da República”. A ABI também cobrou providência de João Doria (PSDB). “Diante destes fatos e em apoio à atuação da Rádio Noroeste FM, a ABI solicita a V. Exa. a adoção das medidas junto aos órgãos de segurança pública para que investiguem com urgência tais ameaças e garantam a integridade física e a vida de Jerry de Oliveira e da diretora Cristiane Costa”.

Jerry também denunciou o caso às comissões de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e do Senado e pede medidas de proteção, como forma de segurança. “Fico feliz com as manifestações, pois demonstra que o povo está a fim de enfrentar esse momento. Ficaremos bem, com o apoio da comunidade, os ‘minions’ estão acuados, mas ao mesmo tempo a polícia do Doria continua fazendo paisagem. É preciso uma ação para que essas pessoas sejam punidas, dentro da lei, e assim possamos ter um sossego”, finaliza Jerry.

Escrito por: Rafael Silva – CUT São Paulo