BASTA DE TANTO ÓDIO E TANTA VIOLÊNCIA!

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Lílian Parise

Mulheres do Sinergia CUT e da CUT Campinas prestam solidariedade às vítimas violentadas diariamente, exigem apuração rigorosa dos crimes e punição exemplar dos culpados

No Brasil desgovernado, o clima de ódio destilado diariamente parece não ter fim, com pronunciamentos oficiais que incentivam preconceitos, discriminações, ataques e incentivos à violência, sem nenhuma preocupação com a vida ou com a morte de quem quer que seja. Parece que nenhuma vida importa.

Só nos últimos dias, a violência brutal e grave contra meninas e mulheres repercutiu tanto – nas manchetes de mídia, nas redes sociais e nas rodas de conversa – que até podemos falar em epidemia, já que os casos divulgados são apenas uma amostra de todos os tipos de violência que acontecem todos os dias.  

Violência que violenta

Na segunda-feira (20) da semana passada, foi preciso que o Brasil inteiro ficasse sabendo do drama de uma menina de 11 anos, grávida depois de ser estuprada, e assim tivesse o direito ao aborto legal, antes negado, apesar de ser garantido pela Justiça. O procedimento foi realizado só dias depois.

Antes disso, a vítima teve esse direito violado várias vezes: pelo hospital que procurou para pedir a ajuda recusada, pelo médico que a atendeu em exames de rotina e, principalmente, por uma juíza e uma promotora de Santa Catarina, que submeteram a menina a uma sessão de tortura psicológica durante audiências, para que levasse adiante a gravidez precoce e depois entregasse o bebê para adoção, apesar dos riscos de saúde e de morte da criança grávida.

Violência que sangra

No dia seguinte, outro caso veio à tona, com a divulgação de um vídeo em que a procuradora-geral Gabriela Samadello Monteiro de Barros é brutalmente agredida pelo também procurador Demétrius Oliveira Macedo, na sede da Prefeitura de Registro, interior de São Paulo, onde ambos trabalham.

Surpreendida pelo subordinado no final do expediente da segunda (20), a procuradora foi atacada com socos no rosto e chutes na cabeça, além de sofrer também ofensas verbais e apesar da presença de outras duas trabalhadoras que tentavam ajudar. Socorrida por colegas, a vítima se livrou do agressor, mas não dos muitos hematomas e de muito sangue.   

A agressão teria como principal motivo a abertura de um processo administrativo contra o procurador, exatamente pelo comportamento suspeito e agressivo na convivência com mulheres no ambiente de trabalho, fato denunciado por uma estagiária e reconhecido por todas.

Agora a procuradora quer também que o colega seja processado pelas agressões violentas que sofreu, que foram registradas em um Boletim de Ocorrência e que devem ser apuradas em sindicância. Na quarta (29), o procurador virou réu por tentativa de feminicídio.  

Violência que fica

No último fim de semana, a vítima exposta foi Klara Castanho, que ocupou manchetes em sites de fofoca por uma opção na vida privada que repercutiu nas redes sociais. Aos 21 anos, a atriz foi atacada e ofendida várias vezes nas redes sociais durante todo o fim de semana.

Decidiu então, no domingo (26), divulgar uma carta aberta, emocionada e emocionante, para contar a verdade, apesar de ter que reviver o sofrimento de tudo o que passou ao descobrir uma gravidez em estado adiantado, depois de ser vítima de estupro, e decidir levar adiante a gestação para entregar o bebê em doação, cumprindo todos os trâmites legais.

Uma opção pessoal da vítima, que deveria ser tratada com respeito, acolhimento, sigilo profissional, empatia e sororidade. Mas que fez com que a jovem fosse novamente violentada pela onda de ódio nas redes e por ter que reviver esse já doloroso momento pessoal.  

Violência é crime

Mais uma vez, em menos de uma semana, precisamos expressar nossa indignação contra tanta violência. São crianças, jovens e mulheres – de todas as idades, etnias, profissões e classes sociais – agredidas, estupradas ou assassinadas pelo preconceito, pelo machismo e pela misoginia que tomou conta desse triste Brasil.

Os números da violência contra mulheres crescem sem nenhum controle em todos os níveis,  começando com a doméstica – que explodiu na pandemia – e passando pela verbal, física, sexual, judicial, institucional e psicológica, até chegar ao feminicídio.

Mais uma vez não vão nos calar. Expressamos toda nossa solidariedade às vítimas violentadas diariamente, exigindo apuração rigorosa dos crimes e punição exemplar dos culpados. Basta!

Campinas, junho de 2022.

Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT

Coletivo de Mulheres da CUT Campinas