Pandemia

Covid matou mais crianças de 6 meses a três anos do que outras doenças em 10 anos

A Covid-19, em um período de dois anos, matou 539 crianças de 6 meses a três anos nessa faixa etária. Ainda assim, o país não tem perspectiva de vacinação no Brasil para parte delas

Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha

A pandemia da Covid 19, em dois anos, deixou entre as mais de 677 mil mortes, 539 crianças, de seis meses a três anos de idade, de acordo com levantamento feito pelo Observatório de Saúde na Infância – Observa Infância (Fiocruz/Unifase), a partir do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

Em comparação com os últimos 10 anos a Covid, mesmo num período mais curto, matou mais do que o triplo de crianças, vítimas de outras 14 doenças que podem matar, mas para as quais já existem vacinas como neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.

Entre 2012 e 2021 o Brasil registrou 144 óbitos de crianças de 6 meses a 3 anos como resultado de doenças dessa lista, apesar de algumas delas não terem causado nenhuma morte infantil. É o caso da poliomielite, erradicada desde 1994 no país. A análise é dos pesquisadores Patricia Boccolini e Cristiano Boccolini que consideraram a Lista Brasileira de Mortes Evitáveis para menores de 5 anos. Formulada por especialistas de diversas áreas ligadas à saúde infantil e coordenada pelo Ministério da Saúde.

Ao se estender a faixa etária de mortes por covid-19 até os cinco anos, o Brasil registrou entre 2020 e 2021, a perda de 1.508 crianças. Já as doenças que compõem a Lista Brasileira de Mortes Evitáveis somaram 44 óbitos nesse período. Na década, entre 2012 e 2021, essas 14 doenças totalizaram 498 mortes.

Segundo Cristiano Boccolini, pesquisador do Observa Infância, se o ritmo de mortes por Covid se mantiver no mesmo nível observado nos últimos dois anos, nos próximos três meses o país pode perder mais 76 crianças nessa faixa etária.

“Esse é o preço que o Brasil pode pagar enquanto espera a aprovação da vacinação para esse grupo. No cenário mais otimista, poderíamos ter a vacina nos braços dos nossos bebês daqui a três meses”, disse ao jornal Folha de São Paulo.

Vacinação contra a covid ainda não chegou para todas as crianças

No último dia 13, a Anvisa liberou o uso emergencial da vacina Coronavac, do Instituto Butantan, para as crianças de três a cinco anos. Porém, as que têm entre seis meses e dois anos continuam descobertas e possuem o dobro de risco de morte em relação às primeiras.

Ao menos 13 países já vacinam crianças menores de cinco anos contra a Covid-19, entre eles Estados Unidos e Israel, que aprovaram a aplicação de doses a partir dos seis meses de idade.

Observa Infância

O Observatório de Saúde na Infância – Observa Infância é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto a sistemas de informação nacionais.

As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.