Otimismo em tempos muito difíceis: coordenador do MST fala para a direção do Sinergia CUT

Roberto Claro

Débora Piloni

Gilmar Mauro, coordenador do MST, faz análise da conjuntura na 2ª Reunião da Direção Executiva do Sinergia CUT
“Esse é o momento de dar um grande salto. O bicho está pegando de verdade nesse país em todos os setores. Vai exigir mais debate, mais organização, mais união, mais juventude, mais paciência e generosidade na formação de um projeto em comum. Porque, por mais difícil que esteja, vivos estamos e temos que enfrentar!”. Foi com esse otimismo todo que o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gilmar Mauro concluiu a sua palestra aos dirigentes sindicais na manhã desta quarta-feira (07), na 2ª Reunião Executiva do Sinergia CUT, em Campinas.
A reunião, que começou às 9h, foi aberta pelo presidente do Sindicato, Edmar Feliciano, que saudou os presentes chamando a atenção de todos para o tema do dia: “Estamos vivendo tempos difíceis não só para a classe trabalhadora, mas para a sociedade em geral. Nessa madrugada, o plenário da Câmara aprovou, em segundo turno, o texto-base da reforma da Previdência. Estamos na luta! Estamos na resistência”. E ele ressaltou a importância da união e do debate: “O que hoje vamos fazer aqui com o companheiro Gilmar Mauro é discutir o que estamos vivendo para ao invés de retroagir, andarmos para frente”.

Foto: Roberto Claro

Realidade com coerência: os desafios e as crises
Ao começar a fazer sua análise da conjuntura do movimento sindical, Gilmar Mauro afirmou ser a realidade muito dinâmica, apresentando-se por meio de desafios.
O primeiro grande desafio apontado por ele é a crise econômica, também chamada de crise sistêmica, societária ou até estrutural. “Isso é na verdade, o que no capitalismo conhecemos como a crise de superprodução. Produz-se muito e não se consegue vender tudo, gerando acúmulo, gerando crise”, explicou. E, além de guerras, isso acaba gerando processo de reestruturação, precarização do trabalho com terceirização.
De acordo com a análise do coordenador do MST, o Brasil também vive a hegemonia do capital financeiro internacional, com a tentativa de sempre cortar vencimentos. “Ou seja, se um setor de uma determinada empresa dá prejuízo, corta-se esse setor. O processo é tão brutal que o crescimento de um país significa o não crescimento da outra nação”, afirmou.
O segundo desafio apontado por Gilmar Mauro é a crise social: são os 14 milhões de desempregados existentes no Brasil. Cerca de 25% das famílias brasileiras não têm trabalho. “Além disso, tem a perda de direitos, com as reformas trabalhista e da Previdência. Outro detalhe nesse ponto é que a classe trabalhadora produz a mais valia para o patrão (o lucro) e produz também a mais valia social, que são os impostos. E, com a disputa do  capital, essa mais valia não é investida de volta na classe trabalhadora”, observou.
Segundo ele, aspectos como esses geram a crise social com um povo sem autoestima, sem autoconfiança. “E um povo assim, não luta”, constatou.
O terceiro desafio é a crise política. É o estado de desmantelamento. É o poder judiciário no controle. Estamos vendo a brutal força que o capital impõe de várias formas. “Para se eleger um deputado aqui é necessário muita grana envolvida”.
O quarto desafio colocado por Gilmar Mauro durante a Executiva do Sinergia CUT foi a crise ambiental. Segundo ele, há estudos indicando que em 70 anos o Estado de São Paulo estará inabitável. “É o limite da contaminação do oxigênio, dos lençóis freáticos, do desmatamento, da destruição dos biomas. O processo está acelerado”, afirmou.
O quinto e último desafio trazido pelo dirigente do MST é a crise organizativa.
De acordo com Gilmar Mauro, no movimento sindical há uma séria  dificuldade de planejamento, uma vez que a necessidade é de se organizar a médio e longo prazo para se conseguir viver bem no momento atual. “Precisamos pensar que tipo de militante e de quadro queremos ter daqui a cinco anos. E daqui a 10 anos?” questionou.
E ele concluiu o pensamento desafiando aos presentes: “Precisamos ampliar nossos quadros com qualidade e unidade. Precisamos dar um grande salto nas organizações, envolvendo a juventude para a formação de um projeto único. Estou otimista. Temos que enfrentar com humildade e unidade!”, incitou.