Presidente da Eletrobras aposta no desemprego de quase três mil trabalhadores

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Lílian Parise

Dando continuidade ao desmonte do sistema para entrega ao capital privado, Pinto Junior promete aumentar capital com mais corte de pessoal
 Em mais uma tentativa de autopromoção junto ao mercado, e sempre querendo mostrar trabalho no desmonte para doação do maior patrimônio público energético brasileiro, o atual presidente da Eletrobras, Wilson Pinto Junior, participou de novo espetáculo midiático direcionado a acionistas, analistas e investidores, através de uma teleconferência realizada na tarde da última quarta-feira (16).
Munido de um PowerPoint recheado de números para esclarecer o mercado “acerca de aumento de capital” e comentários sobre o que considera notícias falsas que circulam na mídia, Pinto Junior incluiu na exposição dois slides que chamaram a atenção da direção do Sinergia CUT, não só pelo fato de colocar em risco o sistema energético nacional com um reduzido número de profissionais, mas também pelas novas demissões previstas para acontecer em breve, apostando no desemprego de 2.722 profissionais altamente qualificados.
Menos 12% de trabalhadores efetivos
O primeiro slide, batizado de “Segundo Plano de Demissão Consensual 2019”, aponta para a demissão de 1.681 trabalhadores efetivos até abril do ano que vem, com a meta de reduzir o quadro de pessoal para apenas 12.088 profissionais antes da pretendida privatização. Segundo o atual presidente da empresa, esse plano de demissão tem como público alvo 3.192 trabalhadores, incluindo aposentados, aposentáveis, anistiados, secretários, profissionais de nível fundamental e locados em unidades desativadas ou em processo de automação.
Para atingir essa meta, ele afirma que a Eletrobras teria um “custo estimado de R$ 548 milhões”, com retorno garantido em menos de dois anos e uma economia posterior de cerca de R$ 510 milhões ao ano. Só não conseguiu explicar como garantiria a qualidade dos serviços de energia com uma nova redução de 12% em um quadro de trabalhadores efetivos já drasticamente reduzido nos últimos anos.
Só para ter uma ideia, em 2016, último ano do governo Dilma Rousseff (PT), que defendia a Eletrobras como patrimônio público essencial e estratégico para a soberania nacional, e que foi interrompido pelo golpe jurídico-midiático, a empresa contava com um quadro de pessoal efetivo de 26.008 trabalhadores. Durante o governo privatista de Michel Temer (MDB), já disposto a entregar esse patrimônio e demitir trabalhadores, o total de efetivos passou para 21.563, em 2017, e caiu para 17.233, em 2018.
Jair Bolsonaro (PSL) acabou eleito em um esquema de notícias falsas e promessas não cumpridas, mas continuou investindo no desemprego que fez o quadro de pessoal chegar aos atuais 13.784 trabalhadores, que agora estão na mira de mais 1.681 demissões.
Quase três mil desempregados
O outro slide apresentado como “investimento” com retorno garantido é o que prevê a demissão de 1.041 trabalhadores contratados de Furnas até dezembro, que tem “custo estimado em R$ 437 milhões” e retorno garantido em um ano e cinco meses, segundo Pinto Junior. Em resumo, as demissões previstas pelo presidente da Eletrobras somam exatos 2.722 trabalhadores. As propostas apresentadas na teleconferência ainda devem passar por aprovação de Assembleia Geral Extraordinária agendada para novembro.
“Depois de assistir a mais esse espetáculo ao público do senhor mercado, é de indignar que Wilson Pinto trate as demissões de profissionais altamente especializados como ‘investimento’ e ‘economia’ da empresa, desprezando a dignidade das pessoas que ficarão desempregadas e arriscando a qualidade de todo o sistema interligado”, denuncia a direção do Sinergia CUT.