Lei das Cotas: luta de trabalhadores com deficiência derrota Bolsonaro e Guedes

A luta pelo direito fundamental ao trabalho garantido na Constituição não terminou, alerta Coletivo dos Trabalhadores com Deficiência da CUT

Marly dos Santos

Ato na Avenida Paulista nesta terça

Érica Aragão

Depois de muita mobilização e pressão no Congresso Nacional, em Brasília, os trabalhadores e as trabalhadoras com deficiência comemoraram a retirada do Projeto de Lei (PL) 6159/2019 encaminhado pelo governo de Jair Bolsonaro que acabava com a política de cotas.
A luta que derrotou mais uma proposta cruel da dupla Bolsonaro/Paulo Guedes, ministro da Economia, foi travada nesta terça-feira (3), Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, criado justamente para garantir direitos como o acesso ao mercado de trabalho.
A notícia de que o PL não vai tramitar no parlamento foi dada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em uma reunião com uma comissão de  trabalhadores e trabalhadoras com deficiência que estava lutando pelo direito ao trabalho, um direito fundamental garantido na Constituição que o governo queria extinguir.
A derrota de Bolsonaro e Guedes começou com a caída do pedido de urgência do PL, na parte da manhã desta terça. Mas, os trabalhadores e as trabalhadoras com deficiência estavam determinados a derrubar de vez o projeto, mais que isso, mesmo depois da reunião com Maia, decidiram que a luta continua.
“Foi uma vitória momentânea e não vamos abaixar a guarda. Precisamos estar atentos a todas as manobras deste desgoverno”, afirmou o bancário de São Paulo, Osasco e Região, José Roberto Santana da Silva.
“A gente derrotou esta proposta de retirar nossos direitos na reforma da Previdência, mas Bolsonaro e Guedes, menos de um mês depois, tentou tirar nossos direitos outra vez através de um Projeto de Lei com medida de urgência”, explicou.
A agenda de lutas dos trabalhadores e trabalhadoras com deficiência continua nesta quarta-feira (4) na Câmara dos Deputados. Eles e elas vão conversar com deputados e deputadas para dizer que, não só o Coletivo Nacional da CUT, como todo o movimento de trabalhadores com deficiência estão atentos e continuarão na luta.

DivulgaçãoDivulgação

Representantes do Coletivo de Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência da CUT no Congresso Nacional
“Precisamos participar de qualquer debate sobre os trabalhadores e as trabalhadoras com deficiência para  deixar bem claro que ‘nada de nós sem nós’”, afirmou José se referindo ao lema do movimento.
“Só nós sabemos as nossas dificuldades e anseios e ninguém melhor que nós para falar sobre isso”.
O membro da Comissão dos Metalúrgicos com Deficiência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) e deficiente visual, Flávio Henrique Souza, disse que a vitória do movimento só se deu pela unidade dos trabalhadores e das trabalhadoras com deficiência.
“O trabalho é a base da dignidade e os trabalhadores e trabalhadoras com deficiência não iam permitir que este PL fosse para frente”.
“Tirar a possibilidade de a gente viver em sociedade, ter autonomia, ter nossos direitos sociais e econômicos colocando o fim na oportunidade de emprego é desumano”, disse Flávio.
“Vencemos, mas estamos atentos. Este governo, em 11 meses, só tem tirado direitos da classe trabalhadora, não só das pessoas com deficiência. Bolsonaro e Guedes estão aprofundando a recessão e continuaremos organizados, unidos e fortes na luta”.
“O Coletivo de Trabalhadores e Trabalhadoras da CUT e seus sindicatos têm um papel fundamental na luta pela retomada de nossos direitos humanos, que foram conquistados com muitas vidas e lutas”, ressaltou Flávio, que lembrou dos governos progressistas de Lula e Dilma quando os trabalhadores e as trabalhadoras com deficiência tiveram igualdade de oportunidades.
Manifestação na Paulista

Arquivo pessoal da MarlyArquivo pessoal da Marly
Manifestação na Paulista nesta terça

 
Enquanto uns trabalhadores e as trabalhadoras com deficiência lutavam no Congresso Nacional, outros e outras estavam nas ruas de São Paulo.
Na Avenida Paulista, nesta terça, mais de 100 pessoas foram para rua protestar contra o PL da exclusão, como foi chamado o projeto de Bolsonaro e Guedes pelos manifestantes.
A coordenadora do Coletivo Estadual dos Trabalhadores e das Trabalhadoras com Deficiência da CUT em São Paulo, Marly dos Santos, disse que, sem saber que o PL já tinha sido retirado, a mobilização só terminou depois das 20 horas.
“Me surpreendi com a disposição de luta dos trabalhadores e das trabalhadoras com deficiência, que têm mais dificuldade de ir para rua. Foi uma mobilização chamada pelas redes sociais e que juntou muita gente. Este PL poderia excluir totalmente a gente do mercado de trabalho, porque ao invés de contratar as empresas iam preferir pagar para o governo”, comentou.
Marly contou que muitos que estavam nas ruas de São Paulo eram trabalhadores e trabalhadoras com deficiência, porque “mesmo os empregados corriam risco. E foi bom ver conhecidos trabalhadores brigando pela causa e vamos continuar até sumir as ameaças que nos rodeiam. Bolsonaro conseguiu nos unir e deixar a gente mais forte”, finalizou Marly, que é aposentada e tem deficiência física (cadeirante).
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