Sinergia CUT aprova ampliar luta contra golpismo

Resolução foi aprovada durante a 5ª Reunião de Direção Colegiada, realizada nesta sexta (6), em Praia Grande

Roberto Claro

Nice Bulhões

Se correr o bicho pegaSe ficar o bicho come. O trecho da música Homem com H, de Ney Matogrosso, retrata bem a situação da classe trabalhadora para 2020. De um lado, alguns economistas preveem uma crise financeira mundial, o que poderá provocar uma recessão parecida com a de 2008. De outro, há economistas que já veem sinais de melhoras e não acreditam nessa crise. Mas, de qualquer modo, a agenda neoliberal sempre atinge a classe trabalhadora. E para tentar barrar mais perdas trabalhistas, o Sinergia CUT aprovou nesta sexta (6) uma resolução com três eixos de articulação.
O documento construído pelos dirigentes sindicais tem como eixos de estratégias de resistência: 1) a luta contra a desigualdade, com a defesa da geração de emprego; 2) a luta pela reconstrução da democracia, com a garantia do direito de organização sindical e negociação coletiva; e 3) a luta em defesa da soberania nacional, com o combate às privatizações. Clique no documento Resolução Colegiada Sinergia CUT para lê-lo na íntegra.
Já na abertura da colegiada, o presidente do Sinergia CUT, Edmar Feliciano (foto ao lado), mostrou a importância da construção de estratégias para o enfretamento nas negociações do próximo ano. “Precisamos aproveitar para debater o momento que vivemos com esse governo fascista, que a todo instante nos surpreende enquanto defensores da classe trabalhadora, mas parece que não surpreende alguns trabalhadores”, avaliou. “Por isso, a nossa responsabilidade enquanto dirigentes sindicais.”
Evolução da economia
Para municiar o Sindicato com informações da economia mundial e brasileira diante da globalização, o economista Marcelo Manzano, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho  (CESIT/IE/Unicamp) e analista de conjuntura da Fundação Perseu Abramo (FPA), explanou sobre a evolução da economia a partir de junho de 2013, com as ondas de protestos no primeiro governo de Dilma Rousseff, até a atualidade. “Não sei explicar em termos econômicos o que aconteceu neste período porque estávamos no melhor dos mundos com relação a mercado de trabalho e renda média”, disse Manzano.

A mesa “Que conjuntura é essa? Ajustes e resistências no Brasil e no mundo” foi ministrada pelo economista Marcelo Manzano e teve a coordenação da vice-presidenta do Sinergia CUT, Deise Capelozza.

Ele se referia ao fato de o desemprego, por exemplo, ter chegado ao seu menor nível em dezembro de 2013: 4,3%, de acordo com o IBGE. “Estávamos com a taxa de juros mais baixa da história, próxima de 1%, e com inflação de 5%”, lembra Manzano. Mas, segundo ele, a partir das chamadas Jornadas de Junho de 2013, “as coisas começaram a degringolar claramente”, mesmo com o aquecimento das contratações, que acarretou elevação da renda média do trabalhador, chegando ao patamar recorde de R$ 2.122,10 em outubro de 2014.
É que em outubro de 2014, eleição onde Dilma concorria pelo seu segundo mandado,  os efeitos da crise internacional de 2008, aliado a algumas contradições internas na economia brasileira, trouxeram recessão. Além da desaceleração da China, principal parceiro, o Brasil ainda enfrentava redução dos preços das commodities, principal item da pauta de exportação nacional. “Em outubro de 2014, o preço do valor do barril do petróleo era US$ 139,7 e caiu para US$ 52,8 em 2015, sendo que essa queda foi registrada também no minério de ferro e no farelo de soja.”
Pouca industrialização
O fato de a economia ser voltada às commodities não foi uma escolha da equipe econômica daquele governo, segundo Manzano. “Somos hoje uma economia pouco industrializada desde os anos 80, quando passamos a perder densidade industrial, e nos tornamos um país exportador de commodities, ficando muito vulnerável ao ciclo de preços delas”, explica. “Elas são vendidas de maneira indiferente e não têm marca, sendo útil para quem quer fazer especulação no mercado.” Com isso, o preço flutua muito. “Em 1985, 30% de nosso PIB era industrial e hoje fica em torno de 10%. E isso reflete em tudo, inclusive no contrato de trabalho e, consequentemente, na vida sindical.”
No ano de 2015 foi imposta pelo mercado, segundo Manzano, um agenda de aumento da taxa de desemprego e uma política equivocada de jogar o PIB para baixo e continuar incentivando o consumo, o que gerou dívidas. Aliado a esse cenário, houve a crise política, que contribuiu de modo significativo para o instabilidade econômica. Com a saída de Dilma, entrou Michel Temer com sua pauta neoliberal, como, por exemplo, buscando avançar ao máximo as privatizações.
Agora, o governo de Jair Bolsonaro atende à pauta do empresariado e a economia internacional está em momento delicado, conforme Mazano. “Muitos economistas acreditam que pode haver uma crise financeira mundial em 2020, o que provocaria uma recessão parecida com a de 2008, afetando os países em desenvolvimento.  No caso do Brasil, isso aprofundaria ainda mais uma economia que está deprimida, já que estamos patinando na recessão. Se conseguirmos evitar essa crise, estaremos num momento um pouco mais favorável.”
Isso porque, segundo o economista, o governo cedeu às suas próprias convicções econômicas, adotando estímulo às demandas, como com a liberação do FGTS e alguns projetos de investimentos, que deverão ter impacto maior em 2020. Mas, de qualquer modo, segundo Manzano, esse governo neoliberal desmonta a capacidade de recuperação, em especial, do aumento da renda média do trabalhador. Por isso, acrescentou que se fazem necessárias, mais do que nunca, a resistência e a luta por parte dos trabalhadores. E como diz o slogan da Colegiada: “em tempos de guerra, mais resistência e ousadia!”

Podcast

com o economista Marcelo Manzano, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho  (CESIT/IE/Unicamp) e analista de conjuntura da Fundação Perseu Abramo (FPA)

Galeria de Imagens – Fotos: Roberto Claro