Saiu na Imprensa: Distribuidoras de energia querem pacote ‘criativo’ de soluções para crise

Letícia Fucuchima, Valor — São Paulo

Companhias defendem necessidade de até R$ 20 bilhões para garantir a liquidez do setor no curto prazo, além de medidas como uso de fundos setoriais e recursos do Tesouro
Escrita por: Letícia Fucuchima, Valor — São Paulo 03/04/2020
As distribuidoras de energia, que são a “porta de entrada” dos recursos do setor elétrico, defendem soluções novas e “criativas” para a crise gerada pela epidemia do novo coronavírus. Segundo as empresas, os remédios utilizados no passado, como a chamada “Conta ACR”, não serão suficientes, até porque a natureza da crise atual é bastante diferente de outras já enfrentadas no passado.
Em live realizada nesta manhã pela XP Investimentos, executivos do setor elétrico discutiram um amplo pacote de propostas, que envolvem recursos do Tesouro e de fundos setoriais, corte de subsídios na conta de luz, além de um empréstimo de socorro por meio de um pool de bancos. Para eles, é necessária uma injeção imediata de recursos para garantir o fluxo de caixa das distribuidoras, antes que os prejuízos se alastrem para os outros elos da cadeia do setor elétrico.
Agentes do setor têm se reunido frequentemente com o Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e outras áreas do governo para discutir medidas que garantam o equilíbrio econômico-financeiro do setor. Ainda não há, porém, uma previsão concreta para o anúncio de qualquer ação.
Pensando no curtíssimo prazo, as companhias entendem ser necessária uma ajuda financeira entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, com o objetivo de assegurar a liquidez do setor. Uma ideia é que esse empréstimo seja feito nos moldes da “conta ACR”, que auxiliou as distribuidoras que enfrentaram dificuldades durante a crise hídrica de 2014.
O segmento de distribuição tende a ser o mais afetado pela crise atual, por sofrer uma queda imediata de faturamento com a redução do consumo de eletricidade. Além disso, também devem assistir a um aumento da inadimplência por parte dos consumidores.
Outro problema à vista é de uma potencial sobrecontratação. Pelos cálculos da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a contratação das distribuidoras poderá atingir um nível de 111% a 113% em 2020.
Essa previsão considera três meses de quarentena: a cada mês de isolamento social, o indicador anual cresce 0,8%. Leva em conta ainda um cenário de PIB de 0,02% neste ano – essa “retração” da atividade econômica ante o previamente esperado também teria um efeito adicional de 0,8% sobre a sobrecontratação anual. Caso a crise se estenda e se intensifique, os números devem mudar, afirma a câmara.