Memória Sinergia Campinas: dias de luta, dias de glória – parte 1

Eletricitários do interior de SP têm história de resistência para contar. Intervenção militar no Sindicato aconteceu há 56 anos. É preciso lembrar para nunca mais acontecer

Arquivo Sinergia Campinas

Lílian Parise

Eletricitários do interior de SP têm história de resistência para contar. Intervenção militar no Sindicato aconteceu há 56 anos. É preciso lembrar para nunca mais acontecer
6 de abril de 1964, seis dias depois do golpe militar que tomou conta do Brasil. Há exatos 56 anos, foi nesse dia que o Diário Oficial do Estado de São Paulo publicava a Portaria número 30, onde o interventor da Delegacia Regional do Trabalho, Damiano Gullo, “designa Aristeu de Lourenzo para exercer as funções de interventor no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elérica de Campinas…”
Passados 56 anos, nesses tempos de crise global profunda, provocada principalmente pela pandemia mundial da covid 19, que impõe a necessidade de quarentena e isolamento social, nunca é demais lembrar que o Brasil vive mais um golpe à democracia, com ataques diários aos direitos da classe trabalhadora e ao movimento sindical.
Entidades legais e legítimas – que têm como papel fundamental lutar e propor saídas para garantir emprego, renda e melhores condições de trabalho para todos – são um dos alvos do atual governo federal que, através de medidas provisórias sucessivas, rasga a Constituição Federal e aprofunda a antirreforma trabalhista que já rasgou a CLT desde Michel Temer (MDB).
Nesses tempos de grandes retrocessos, com a admiração à ditadura militar e aos torturadores dos anos 60,  inúmeras vezes declarada e reafirmada por Jair Bolsonaro (sem partido), a direção do Sinergia Campinas entende que é preciso reescrever a história de luta dos eletricitários e das eletricitárias do interior paulista para resgatar a verdade e reavivar a memória dos que ajudaram a construir um sindicato combativo, também alvo de intervenção dos militares.
Nunca é demais lembrar que a violência do Estado produziu e continua a produzir vítimas de várias formas, no passado e no presente, através das várias expressões de arbitrariedades e de autoritarismo. “É preciso lembrar para nunca mais acontecer. Continuamos a defender radicalmente a democracia com direito à memória, à verdade e à justiça”, afirma a direção do Sindicato.
O começo da organização sindical
Com o nome de Sindicato dos Operários em Fiação, Luz e Força, o Sindicato foi fundado oficialmente, como uma entidade municipal, em 10 de agosto de 1934. Dez anos depois, em 26 de fevereiro de 1944, a nomenclatura mudou para Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Energia Hidroelétrica de Campinas, então com com base regional. Ao longo dos anos, a base legal foi ampliada – antes e depois de se transformar no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica de Campinas (Stieec), em 21 de julho de 1981.
Alvo da ditadura
Mas a história de combatividade começou em 9 de fevereiro de 1963, com a posse de uma diretoria identificada com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e que ficou no comando da entidade até ser cassada, em abril de 1964.
Vale lembrar que há 56 anos, o golpe militar matou, torturou e prendeu lideranças e militantes de oposição, inclusive sindicalistas, em todo o Brasil. O Stieec foi um dos alvos de uma intervenção autoritária para calar a voz da diretoria ligada ao PCB.
Combatividade de volta                                    
Muitas histórias e muitos anos depois, a ousadia da luta só foi retomada em 1987, quando a chapa da CUT, de oposição aos pelegos de cartório, retomou a entidade e resgatou o papel do Sindicato como o legítimo representante dos eletricitários e eletricitárias do interior de SP.
O Brasil avançava rumo à redemocratização. E o Stieec começava a escrever uma nova história a partir dos princípios da CUT, com disposição de luta, consciência de classe, transparência e democracia. Mas, principalmente, com muita ousadia para enfrentar os desafios e os ataques dos patrões das empresas ainda estatais.
 
Escrito por: Lílian Parise