Violência contra mulheres aumenta em tempos de pandemia

Risco de violência doméstica aumenta quando famílias já vulneráveis são colocadas sob tensão, isolamento social e quarentena. Denuncie!

Lílian Parise

Risco de violência doméstica aumenta quando famílias já vulneráveis são colocadas sob tensão, isolamento social e quarentena. Denuncie!
Fique em casa! Mais que uma palavra de ordem, o isolamento social é a única saída para combater o contágio, achatar a curva de infectados e diminuir o risco de morte de milhões de pessoas no Brasil e no mundo nesses tempos de pandemia da covid-19.
Mas, o que já pode ser estressante para muita gente, para muitas mulheres estar em quarentena para ajudar a combater o novo coronavírus significa também estar lado a lado com a violência doméstica, realidade de muitas brasileiras que vivem relacionamentos abusivos e não têm opção a não ser ficar em casa, forçadas à convivência com o agressor.
Fato é que o impacto social do novo coronavírus está atingindo fortemente as mulheres. Elas representam 70% das pessoas que trabalham no setor social e de saúde e são três vezes mais responsáveis pelos cuidados não-remunerados em casa do que os homens, informa a ONU Mulheres, que recomenda uma série de medidas nas ações contra a pandemia, que visam apoio prioritário a elas.
“Muitas delas também são mães e cuidadoras de familiares. Elas continuam carregando a carga de cuidados, que já é desproporcionalmente alta em tempos normais. Isso coloca as mulheres sob considerável estresse”, avalia a diretora-executiva, Phumzile Mlambo-Ngcuka, em entrevista à Rede Brasil Atual.
Soma-se a isso as várias estatísticas já conhecidas como salários mais baixos para mulheres nos mesmos cargos ou atividades de homens, sobrecarga de trabalho de rotina, fechamento de creches e escolas na quarentena e constata-se que a obrigação em várias casas aumenta, ou com acúmulo de mais uma das várias jornadas até a pressão de que elas precisam desistir do trabalho profissional.
Mais fatal que doenças e acidentes
Pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) detalha os impactos perturbadores da violência sobre a saúde física, sexual, reprodutiva e mental das mulheres. Surpreendentemente, a violência de gênero é uma causa tão grave de morte e incapacidade entre as mulheres quanto o câncer, e uma causa maior de problemas de saúde que os acidentes de trânsito e a malária combinados, aponta a OMS.
É preciso destacar também que a violência doméstica pode ser física ou verbal, com agressão corporal ou tortura psicológica, e que muitas das vítimas não têm acionado os canais de denúncia. O fato de subnotificação de casos de violência doméstica nesse período de isolamento social, inclusive nas unidades policiais e judiciárias brasileiras, é preocupante.
Sororidade é tudo!
Para o Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT, mais do que nunca a rede de solidariedade entre as mulheres precisa funcionar. Então, se você ouvir algo suspeito, não hesite em denunciar! Disque 180! O serviço de denúncia funciona 24h por dia e mantém o anonimato da vítima. Vizinhos, conhecidos ou familiares também podem denunciar e receber orientações por meio da central. “Para barrar o vírus da pandemia é preciso isolamento social. Mas é preciso barrar também a violência doméstica. Denuncie sempre!”, afirma Rosana Gazzolla, coordenadora do Coletivo.

Dificuldade no atendimento é mundial
Desde o início da pandemia, a ONU relata que alguns países viram o número de chamadas para o socorro de mulheres dobrarem durante a pandemia. Na China, triplicaram. Para a ONU, esses números são só uma indicação do problema, mas apenas cobrem países onde existem sistemas de informação.
Nos países com instituições fragilizadas, enquanto o vírus se espalha e a violência contra mulheres aumenta, menos informações estão disponíveis. É o caso do Brasil, em que pesquisas apontam um aumento de 10% nas agressões, mas a expectativa é de que a vulnerabilidade e a violência são mais altas, devido às subnotificações.
Ainda assim, todos os governos foram chamados a fazer da prevenção e da reparação da violência contra as mulheres uma parte essencial de seus planos nacionais de resposta à covid-19, com recomendações para melhorar a situação. A ONU recomenda aumentar o investimento em serviços online e organizações da sociedade civil, garantir que os sistemas judiciais continuem processando os agressores, estabelecer sistemas de alerta de emergência em farmácias e mercados.
Também é preciso que os países declarem abrigos como serviços essenciais, criem canais seguros para dar apoio às mulheres, evitem libertar prisioneiros condenados por violência contra mulheres e ampliem campanhas de conscientização pública.
“Carta de Mulheres”
No Brasil, para ajudar as mulheres que precisam de orientação, apesar da pressão da convivência ao lado de opressores, o Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo lançou o projeto “Carta de Mulheres”, onde as vítimas, ou quem quiser ajudar, acessam um formulário online para serem atendidas por uma equipe especializada que responde às dúvidas e informam os locais de atendimento adequado para cada caso.
As respostas, sob responsabilidade de profissionais da Comesp (Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário,) atendem demandas de todo o estado de São Paulo, informando os locais de atendimento adequados, levando em consideração a situação de cada mulher e o tipo de violência – física, psicológica, patrimonial ou outra. Tudo com sigilo garantido. Basta acessar o formulário on-line (www.tjsp.jus.br/cartademulheres).
PL em análise na Câmara Federal
Outra boa notícia é que corre na Câmara dos Deputados um PL (Projeto de Lei) que propõe medidas de combate e prevenção à violência doméstica durante a atual quarentena, um “estado de emergência de saúde pública decorrente do coronavírus”.
Apresentado pela deputada Maria do Rosário (PT-RS), o PL prevê vários canais de denúncia como aplicativo gratuito por celulares, atendimento por portal eletrônico e plantão telefônico para denúncias. Como justificativa, a deputada destaca que a ONU considerou que “as mulheres se encontram, na vigência da pandemia e do afastamento social, entre os cinco grupos mais vulneráveis a violências”.

Por Lílian Parise, Área de Comunicação do Sinergia CUT