Economia da morte

Veto de Bolsonaro à ampliação do auxílio emergencial trará desemprego e falências

Jair Bolsonaro diz que pode vetar a ampliação do auxílio emergencial para mais categorias de trabalhadores. Para economistas da Unicamp e URFJ, decisão aumentará mais o desemprego e falências

Fotos Públicas

Rosely Rocha, da CUT

A Câmara e Senado demoraram 20 dias para aprovar a ampliação do auxílio emergencial de R$ 600,00 para mais categorias de trabalhadores e trabalhadoras informais enfrentarem o período mais grave da pandemia do coronavírus (Covid 19), e Jair Bolsonaro já deu a entender, em entrevista na segunda-feira (27), que vai vetar a ampliação do auxílio e as mudanças nas regras no Benefício de Prestação Continuada (BPC) que podem aumentar em até 1,5 milhão o número de pessoas beneficiadas.
A desculpa é a de sempre: evitar que o governo gaste cerca de R$ 30 bilhões, necessários para pagar a ampliação do auxílio emergencial. Para ele, investir na população é apenas um gasto que pode evitar.
Para as professoras de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil, e da Unicamp, Marilane Teixeira, a decisão de Bolsonaro, que conta com o aval do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, é um tiro no pé, já que com menos dinheiro circulando, há menos consumo, especialmente para os micro, pequenos e médios negócios que poderão ir à falência, fechando de vez as portas e demitindo seus trabalhadores.
“Os pequenos e médios empreendedores vão fechar seus negócios, vão falir. Vai haver aumento na taxa de desemprego e quem vai sobreviver são os grandes conglomerados, as grandes empresas que têm parte dos seus ativos no mercado financeiro. O restante vai viver num cenário de caos”, afirma a professora da URFJ, Denise Gentil.
Marilane Teixeira, doutora em Desenvolvimento Econômico, concorda com a professora da URFJ, de que os grandes conglomerados urbanos, as multinacionais, podem interromper a produção, suspender contratados, reduzir jornadas e salários e, isto não vai afetar a dinâmica de suas economias.
“Eles podem ter lucros menores, quedas nas vendas, mas as grandes empresas têm fluxo de caixa, têm acesso aos bancos, já os pequenos negócios não têm nem crédito acessível porque o sistema financeiro brasileiro é totalmente avesso ao risco e os bancos não querem se arriscar com quem pode quebrar”, avalia.
Segundo Marilane, os pequenos e médios empreendedores têm a maior chance de quebrar porque 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país são provenientes do consumo das famílias brasileiras, que em sua grande maioria gasta tudo com alimentação, moradia e pagamento de contas básicas como água e luz.
“Colocar dinheiro em circulação garante que os mais vulneráveis, os pobres que vivem nas periferias e nas pequenas cidades mantenham o comércio local ativo, nem que seja pedindo entregas, neste momento de pandemia. Com isso, esses comerciantes podem ao menos segurar o emprego do cozinheiro, do entregador, sobreviver, e se organizarem minimamente para pagar suas despesas básicas”, afirma.
As consequências do coronavírus com a queda do PIB mundial e do Brasil, além da política de austeridade econômica do governo brasileiro, também preocupam a professora de economia da URFJ. O Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório “Panorama Econômico Mundial’, lançado neste mês de abril, estima que o PIB mundial cairá mais de 3%, e no Brasil 5,3%.
“Há cenários mais negativos que apontam uma queda de até 12% no PIB brasileiro. A situação é absolutamente dramática para a economia americana, europeia e do mundo, e o governo Bolsonaro, em vez de fazer como outros líderes mundiais que têm garantido salários e renda dos trabalhadores, impõe vetos nos gastos públicos. É um cenário estapafúrdio e dramático”, critica Denise Gentil.
A decisão de manter o teto dos gastos públicos e a austeridade econômica diante da pandemia é ridícula, de acordo com a economista da Unicamp.
Para Marilane Teixeira, é justamente o contrário que o governo deveria fazer. O momento, segundo ela, é de fazer a economia girar e, isto só se faz mantendo o dinheiro em circulação, garantindo o fluxo monetário.
 “Vivemos um problema mundial de oferta e demanda. Não há uma crise de credibilidade de investidores internacionais que ameaçam sair do país porque o governo não vai manter o teto dos gastos É a relação das famílias com seus fornecedores, com as empresas que está em jogo, e o Estado deveria garantir a integralidade dos salários, como estão fazendo em todo o mundo, e não o contrário, de impedir que milhares de pessoas tenham acesso a um auxílio mínimo”, afirma.

Economizar R$ 30 bilhões em auxílio emergencial não fará diferença nenhuma nas contas públicas, porque com o desemprego generalizado a população não vai ter renda, não vai consumir, as pequenas e médias empresas vão falir, e o governo não terá de quem cobrar imposto. É melhor gastar agora para garantir a sobrevivência das pessoas e recuperar as contas depois  

– Marilane Teixeira
Escrito por: Rosely Rocha, da CUT