Bolsonaro está em ‘tempestade perfeita’ para sofrer o impeachment, diz sociólogo

Na análise de Jacques Mick, os militares não endossariam um golpe com Bolsonaro, enquanto o governo federal está vulnerável

Redação RBA

Na análise de Jacques Mick, os militares não endossariam um golpe com Bolsonaro, enquanto o governo federal está vulnerável
Marcos Corrêa/PR

Para frear as ações golpistas e negacionistas do presidente, sociólogo afirma que a melhor respostas dos poderes democráticos é abrir o processo de impeachment
São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que voltou a participar de manifestações antidemocráticas, no último domingo (3), está em meio a uma “tempestade perfeita” para sofrer seu impeachment, diante dos crimes de responsabilidades já cometidos, somados às crises econômica e sanitária. A avaliação é Jacques Mick, sociólogo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina.
Para frear as ações golpistas e negacionistas do presidente, o sociólogo afirma que a melhor resposta a ser dada pelos poderes democráticos é abrir o processo de impeachment que o tire do poder. O analista lembra que o franco declínio da avaliação do governo Bolsonaro, situação similar à vivida por Dilma em 2016, facilitaria a execução do afastamento.
“O processo de impeachment não começa com uma maioria contra o governante. Em novembro de 2015, quando o processo começou a tramitar na Câmara, eram poucas as pessoas que acreditavam na maioria contra Dilma, mas alcançou. Nesse momento, o país se aproxima de uma ‘tempestade perfeita’ igual ao que se viveu em 2016, com um governo declinante, sem atividade econômica e com o cenário externo desfavorável”, explica Mick, à Rádio Brasil Atual.

Forças Armadas

Durante a manifestação de domingo passado, com novos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Congresso e à imprensa, Bolsonaro disse estar junto com as Forças Armadas e “ao lado do povo” e deu declarações consideradas intimidatórias e ameaçadoras à normalidade democrática.
Na análise do sociólogo, os militares não endossariam um golpe junto com Bolsonaro, enquanto o governo federal se encontra vulnerável e perde apoio de parcela importante da população, segundo as mais recentes pesquisas de opinião.
“Os militares estariam dispostos a entrar numa aventura golpista de um governo de baixo apoio popular? Não me parece isso. Outros analistas observam que os militares não são um bloco homogêneo também, havendo uma propensão golpista maior no Exército, do que na Aeronáutica e Marinha”, afirmou Jacques Mick.
Por outro lado, ele afirma que falta um pronunciamento mais incisivo das Forças Armadas contra as manifestações antidemocráticas. “O país fica frágil quando o governante diz que terá as Forças Armadas ao seu lado, insinuando que poderá fechar os Poderes e dando passos mais largos em direção ao regime fechado sem democracia. Se os militares têm compromisso com a democracia, deveriam demarcar uma distância à retórica golpista”, finalizou.