Indicada por Bolsonaro

Estudo com 96 mil pacientes mostra que cloroquina aumenta risco de morte

Pesquisa foi realizada em 671 hospitais em vários países. Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomenda uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para doentes de covid-19

Montagem/Alan Santos/PR

Bolsonaro e Donald Trump são os maiores defensores do que eles chamam "benefícios" da cloroquina

Cida de Oliveira, da RBA

São Paulo – A principal revista especializada em medicina The Lancet publicou hoje (22) uma grande pesquisa que aponta que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem não ser eficazes no tratamento de doentes de covid-19. E pior: causa arritmia cardíaca, que aumenta as chances de mortalidade em 45%. A publicação é feita dois dias após o presidente Jair Bolsonaro divulgar protocolo para uso dos medicamentos na rede pública de saúde até mesmo para pacientes sem gravidade.

Participaram da pesquisa 96.032 pacientes internados em 671 hospitais em seis continentes no período de 20 de dezembro de 2019 a 14 de abril passado. Desse total, 14.888 receberam doses ou combinação da cloroquina nas primeiras 48 horas de internação.
Os pesquisadores constataram que os pacientes tratados com a hidroxicloroquina, versão menos tóxica do medicamento, tiveram aumento de 34% no risco de mortalidade e de 137% no risco de arritmias cardíacas graves. Quando combinado com antibióticos, o medicamento aumentou em até 45% o risco de morte e em 411% a chance de arritmia cardíaca grave.
Já a cloroquina, quando administrada sem outros medicamentos, representou um aumento de 37% no risco de mortalidade e de 256% em arritmia cardíaca. Quando combinada com um antibiótico, ela continuou apresentando o mesmo risco de mortalidade e um aumento de 301% no risco de arritmias cardíacas graves.

Foi apostando as fichas nesses medicamentos que Bolsonaro desestimulou o isolamento social desde o começo.

O estudo confirma o resultado de trabalhos anteriores quanto à ineficácia comprovada da medicação. Segundo os pesquisadores, o uso dessa classe de drogas para a covid-19 é baseado em um pequeno número de experimentos que demonstraram respostas variáveis em análises observacionais, não controladas e em ensaios clínicos aleatórios e abertos que foram amplamente inconclusivos.”

Cardiologistas desaconselham

A Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou nota de esclarecimento na qual não recomenda o uso da cloroquina e hidroxicloroquina associada, ou não, a azitromicina, enquanto não houver evidências científicas definitivas acerca do seu emprego.

“No entanto, para os pacientes que optarem pela realização do tratamento, orienta que, desde que resguardada as condições sanitárias necessárias para minimizar o risco de contágio de profissionais de saúde e outros pacientes, que sejam realizados eletrocardiogramas”, diz um trecho da nota.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo de 14 de abril, o laboratório do Exército já havia fabricado até então 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina e que a produção deveria aumentar para 1 milhão por semana por determinação do presidente Bolsonaro.

 
Por Cida de Oliveira, da RBA