Fábrica fechada em 2020 tem capacidade para produzir 30 mil m3 de oxigênio por hora

Encerramento das atividades, determinado pelo governo Bolsonaro em março do ano passado, além de deixar de prestar um serviço essencial na pandemia, representa prejuízo aos cofres públicos

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Andre Accarini, da CUT

Escrito por: Andre Accarini 

Com capacidade para produzir cerca de 30 m³ de oxigênio por hora, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) está parada, sem operações, desde que o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) determinou o encerramento das atividades em março de 2020, no início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19)  no país.

Um ano depois, com mais de 278 mil vidas perdidas para a doença, ameaça de colapso nacional no sistema de saúde e tragédias como a de Manaus, em que pacientes morreram em corredores de hospitais, asfixiados por falta de oxigênio, o governo de Bolsonaro continua negligenciando o enfrentamento à pandemia e ações como a reabertura da fábrica, que poderia salvar vidas, são ignoradas.

Além de não exercer essa importante função social neste momento, o fechamento da fábrica deixou cerca de mil trabalhadores sem emprego e com dificuldades de recolocação no mercado de trabalho e representa prejuízo aos cofres públicos.

À época, representantes sindicais do Sindquímica PR e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), alertaram sobre esses prejuízos já que houve investimento público da Petrobras quando a planta foi construída, e depois vendida por valor muito inferior ao que realmente valia.

E basta boa vontade para que a fábrica volte a operar. Atualmente a fábrica está hibernada, com poucos trabalhadores na segurança e na manutenção. De acordo com informações do Sindiquímica PR, tecnicamente, como há uma planta de separação de ar na unidade, ela pode, com uma pequena conversão, produzir o oxigênio hospitalar.

“Precisamos produzir oxigênio nessa fábrica para salvar vidas de muitos brasileiros e brasileiras que agonizam nas UTI’s dos hospitais”, diz Roni Barbosa, secretário de Comunicação da CUT e dirigente do Sindpetro PR e SC. De acordo com ele, a reabertura da fábrica é uma urgência sanitária e em defesa da vida.

Iniciativa

Uma frente parlamentar formada por deputados estaduais do PT e do MDB no Paraná, protocolou na quarta-feira (10), um pedido na Assembleia Legislativa do estado para que sejam retomadas as atividades da Fafen.

O pedido entregue ao chefe da Casa Civil, Guto Silva, é assinado pela frente parlamentar formada pelos deputados do PT, Arilson Chiorato, José Rodrigues Lemos, Luciana Rafagnin e Antonio Tadeu Veneri; além de Maurício Thadeu de Melo e Silva e Antônio Anibelli Netto, ambos do MDB.

Guto Silva auxiliará os trabalhadores representados pela FUP e parlamentares nas negociações com a Petrobrás.

“Estamos aguardando o retorno da Casa Civil para receber e ouvir a proposta dos trabalhadores e sobre uma possível mediação do governo junto à Petrobras para retomar as atividades da Fafen”, diz o deputado estadual Arilson Chiorato (PT).

Em janeiro deste ano, o PT também protocolou uma manifestação no Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo a reabertura da unidade e que a Presidência da República tomasse todas as providências para garantir o abastecimento de oxigênio aos hospitais de todo o país.

Prejuizo

Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna a reativação da unidade. “Segundo os ex-funcionários, a cada mês, a reativação da indústria é mais difícil, por conta da deterioração e complexidade, bem como segurança dessa planta industrial”, afirma Arilson Chiorato, deputado estadual do PT, integrante da frente paramentar.

A unidade poderia produzir, diariamente, 30 mil m3 de oxigênio hora, em dois turnos de 6 horas cada, o que daria no total 360 mil³ por dia. Daria para encher 30 mil cilindros hospitalares de pequeno porte, com capacidade média de 20 inalações de 10 minutos cada, o que auxiliaria no suprimento ao sistema de saúde e evitar dramas como o vivido pelos manauaras.

 “A Fafen-PR tem uma planta de separação de ar, que, com uma pequena modificação, poderia ser convertida para produzir oxigênio hospitalar, ajudando a salvar vidas nesse momento dramático da pandemia, que atinge novos picos em diversos estados do país”, afirma Gerson Castellano, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e um dos muitos funcionários demitidos, após o fechamento da unidade.

De açodo com o dirigente, se a fábrica estivesse em operação, com dois turnos diários de seis horas, poderia fornecer ao país 360 mil metros cúbicos de oxigênio por dia. Atualmente, o consumo diário de oxigênio só no Amazonas é de 76 mil m³.

“Infelizmente sabemos que a pandemia vai piorar e aumentar a capacidade de produção de oxigênio para fornecer aos hospitais será uma questão humanitária”, diz Castellano.

Perda de empregos

Além de desprezar a capacidade e a importância da fábrica neste momento, o governo de Bolsonaro, ao encerrar as atividades da unidade, ainda deixou cerca de mil famílias desamparadas e sem perspectiva de recolocação no mercado de trabalho, em um momento de aprofundamento da crise social e econômica, no início da pandemia.

Até hoje, esses trabalhadores têm dificuldade de conseguir uma nova fonte de renda e se organizam para buscar uma solução. O fechamento da fábrica pegou a todos – trabalhadores, FUP e sindicatos – de surpresa, sem qualquer negociação, o que levou a categoria a realizar uma greve histórica, no ano passado, que durou 21 dias. 

À época, até mesmo as famílias de trabalhadores se mobilizaram, participando das manifestações diárias, realizadas pelos funcionários da fábrica. Eles chegaram a se acorrentar nos portões da fábrica em protesto contra o fechamento da unidade.

História da fábrica

A “Ansa/Fafen-PR” operava desde 1982. Em 2013 foi adquirida pela Petrobrás em 2013. A unidade produzia diariamente 1.303 toneladas de amônia e 1.975 toneladas de ureia, de uso nas indústrias química e de fertilizantes, o que representava cerca de 30% da produção nacional.

Produzia ainda 450 mil litros por dia do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), um aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas e tinha capacidade para produzir de produzir 200 toneladas/dia de CO2, vendido para produtores de gases industriais; além de 75 toneladas/dia de carbono peletizado, vendido como combustível para caldeiras; e 6 toneladas/dia de enxofre, usado em aplicações diversas.

A alegação da Petrobras para o fechamento foi de que a fábrica dava prejuízos e a estatal definiu sair do mercado de fertilizantes. Com isso, o país aumentou ainda mais a dependência de importação de fertilizantes para a agroindústria.

Porém, conforme explica Roni Barbosa, a fábrica não era deficitária e prova disso é que outras duas unidades – em Sergipe e na Bahia – já estão sendo reativadas após terem sido arrendadas pela iniciativa privada.

“Foi mais uma série de mentiras, como é costume do governo, para sucatear as operações da Petrobras. As outras duas unidades foram arrendadas por R$ 70 milhões por ano, durante 10 anos e o lucro estimado – por ano – é de R$ 2 bilhões. Isso prova que as empresas não dão prejuízo”, diz Roni Barbosa.

De acordo com Gerson Castellano, a expectativa a partir de agora é de que a frente parlamentar possa fazer pressão sobre a Petrobras e o governo federal para que a unidade de Araucária volte a funcionar e, além de produzir o oxigênio “que será mais do que necessário nesse momento da pandemia”, também reduza a necessidade de importação de fertilizantes.

*Com apoio da FUP, Sindipetro PR e SC e Sindquímica-PR

Edição: Marize Muniz

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