Crise hídrica

Maior hidrelétrica do Sudeste opera com reservatório abaixo de 2%

Reservatório da hidrelétrica de Ilha Solteira, no rio Paraná, está com apenas 1,82% da capacidade. Há um ano, índice era de 65,32%

CESP/Divulgação

Além de Ilha Solteira, outras seis hidrelétricas da região Sudeste/Centro-oeste operam com reservatórios em torno de 10% ou menos da capacidade

Tiago Pereira, da RBA

São Paulo – A usina hidrelétrica de Ilha Solteira, maior do Sudeste em potência instalada, operou nesta segunda-feira (13) com apenas 1,82% da capacidade do seu reservatório. A queda no volume de água é vertiginosa e ameaça o seu funcionamento. Há uma semana, o reservatório da usina do Rio Paraná registrava 14,77% da sua capacidade. Em 13 de agosto, esse índice era de 35,52%, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No mesmo período do ano passado, seus níveis alcançavam 65,32%.

Para funcionar adequadamente, as hidrelétricas precisam ter um mínimo de 10% de água em seus reservatórios. Abaixo deste percentual, a operação fica comprometida, com risco de lamas e galhos danificarem as turbinas.

A estatal chinesa CTG Brasil, que opera a usina de Ilha Solteira, afirma que os índices divulgados pelo ONS se referem a níveis mínimos definidos pelas normas regulatórias, fixados em 323 metros de profundidade do reservatório. Contudo, a usina seria capaz de continuar gerando energia até a cota mínima de 314 metros. Se considerado esse limite, o reservatório estaria em 57,82% de sua capacidade. Para tanto, as condições de operação teriam que ser modificadas pelo órgão regulador.

Sudeste/Centro-Oeste

Ilha Solteira não é um caso isolado. No subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que concentra 70% da capacidade de armazenamento, outros três reservatórios estão abaixo de 10%: Três Irmãos (4,16%), no rio Tietê; Marimbondo (9,30%), no rio Grande; e Itumbiara (9,77%), no rio Paranaíba. No total, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste operam com 18,58% da capacidade.

Mais três hidrelétricas da região operam perto do limite de 10%: Emborcação (10,82%) e Nova Ponte (11,36%), no rio Paranaíba; e Água Vermelha (11,12%), no rio Grande. Na mesma bacia, Furnas, que concentra a maior capacidade de armazenamento, está operando com 15,37%. Em agosto, esse índice era de 21,37%.

Mais térmicas, mais caras

Para conter o risco de apagão iminente, a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG) anunciou, na última quinta-feira (9), a contratação de reserva de energia por procedimento competitivo simplificado. Trata-se da contratação emergencial, sem a necessidade de leilões, de energia gerada por usinas termelétricas. “A perspectiva é que teremos ao final de novembro os reservatórios em níveis muito baixos e não podemos contar apenas com chuvas”, afirmou o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Christiano Vieira da Silva.

No entanto, com custos de produção até 20 vezes maiores do que os das usinas hidrelétricas, a utilização generalizada das térmicas deve provocar novos aumentos na conta de luz.

Por outro lado, passou a vigorar, no início do mês, a nova “bandeira da escassez hídrica”, estabelecida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), como forma de inibir o consumo. Esta nova tarifa estabelece taxa extra de R$ 14,20 para cada 100 kWh consumidos, o que representa aumento de 49,6% em relação a atual bandeira vermelha de patamar 2 (R$ 9,492 a cada 100 kWh). A cobrança da taxa, por enquanto, valerá até abril de 2022.

Por Tiago Pereira, da RBA