Conjuntura

Oficina da CS 2022 debate desafios do setor energético e revela ataques aos direitos dos trabalhadores

Presidente da CUT, Sérgio Nobre, e economista Patrícia Pelatieri, do Dieese, traçam cenário das negociações e da luta em defesa da categoria

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Nice Bulhões

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Presidente da CUT, Sérgio Nobre, e economista Patrícia Pelatieri, do Dieese, traçam cenário das negociações e da luta em defesa da categoria durante a Oficina. Evento híbrido prossegue neste sábado (19)

Mais da metade das negociações salariais do setor energético brasileiro (energia e gás) perdeu para a inflação no período entre janeiro e novembro de 2021, atingindo 66,3% dos acordos e convenções coletivas. Só 7,6% tiveram ganhos reais, enquanto 26,1% dos reajustes foram equivalentes à variação da inflação, medida pelo INPC-IBGE.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (18) pela economista Patrícia Pelatieri, diretora técnica adjunta do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), durante a Oficina da Campanha Salarial 2022 do Sinergia CUT. O evento foi realizado de forma híbrida, presencial e virtual, e continua neste sábado (19).

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, que participou da mesa, avaliou que o levantamento do Dieese é importante para fortalecer a luta do setor energético. Acrescentou que o movimento sindical precisa criar comitês em defesa dos trabalhadores. Nobre anunciou que será lançado, às 17h da próxima terça-feira (22), os “Comitês de Luta em Defesa da Classe Trabalhadora, pela Vida e Democracia”. O evento será virtual, com transmissão nas redes sociais da CUT e da Rede TVT. Para mais informações, clique aqui.

“Desde o Golpe de 2016, é o pior momento da classe trabalhadora, com a alta taxa de desemprego e o retorno da fome e da miséria”, afirmou Nobre. “Estamos assistindo famílias inteiras indo morar nas ruas.” Para ele, os brasileiros e brasileiras terão, em 2022, o destino da nação em suas mãos por meio do voto. O presidente da CUT defende que é preciso lutar contra a perda de direitos, trabalho precário e o empobrecimento da população.

O presidente do Sinergia CUT, Carlos Alberto Alves, confirma que os energéticos enfrentam muita resistência na mesa de negociação com as empresas. “Mas, os resultados das negociações dos sete sindicatos do Projeto do Sinergia CUT fogem da curva do cenário geral, já que conseguimos reajustes iguais e maiores que a inflação, e também manter ou até melhorar os nossos ACTs em 2021.” Mas, segundo ele, é uma luta árdua, que precisa ser novamente travada este ano.

Setor energético brasileiro

Os energéticos conseguiram assegurar um saldo positivo de empregos entre janeiro e novembro de 2021 no país, mas isso não significou geração de emprego e sim a reposição de mão de obra demitida, segundo a economista Patrícia. “A rotatividade é alta no setor energético, embora menor se comparada com a de outros setores.”

Segundo a economista, o saldo de empregos (diferença entre admissão e desligamento) foi “pífio” no período, com variação de 1,77%, considerando “uma população que cresce e que demanda muito pelos serviços de eletricidade e gás, principalmente neste período de crise energética”. Por isso, ela defende mais investimentos no setor.

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O levantamento da economista tomou como base 127 instrumentos de negociação, sendo 122 acordos coletivos e cinco convenções, registrados no Sistema Mediador do Ministério do Trabalho. Deste total, 57% deles foram firmados na região Sudeste. Com relação aos reajustes salariais no período, os piores desempenhos foram registrados nos meses de julho e novembro, quando 85,7% e 80% das negociações, respectivamente, ficaram abaixo da inflação.

Para Patrícia, a retomada da valorização do salário mínimo é urgente para elevação do piso salarial. No setor energético, o piso salarial, que varia de R$ 1.078,66 a R$ 3.114,24, está muito próximo ao salário mínimo. “Mesmo que o reajuste salarial não acompanhe ao do mínimo, é importante essa transferência de renda.”

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Cenário nacional de 2021

O setor energético apenas reflete o cenário econômico nacional. “A trajetória da economia é de uma precarização enorme do trabalho e isso tem a ver com a Reforma Trabalhista e com as medidas econômicas escolhidas pelo atual governo, sendo agravada com a pandemia de covid-19”, explicou Patrícia.  

Novembro de 2021 foi o pico da inflação (INPC) no país, chegando a 11,08%. No Brasil, foi o mês em que houve a maior quantidade (28,8%) de reajustes pagos em duas ou mais parcelas nas últimas 15 datas-bases e também o maior percentual (44,4%) de reajustes escalonados.

A taxa de desemprego saltou de 7,1%, em 2012, para 12,6%, em 2021. No último trimestre de 2014 havia 690 mil segurados; no final de 2016 o número tinha baixado para 587 mil, foi para 472 mil no final de 2019 e caiu para 438 mil no final de 2021. Atualmente, para cada 30 pessoas desempregadas há apenas uma que recebe seguro-desemprego, o que mostra a total insuficiência da cobertura do seguro.

Por Nice Bulhões