Escrito por: André Accaini | Editado por: Marize Muniz
A participação do movimento sindical e de movimentos populares na elaboração de propostas para o plano de governo do ex-presidente Lula foi o principal tema de encontro com sindicalistas da CUT, na manhã desta segunda-feira (4), na sede da Central, em São Paulo. Durante o evento, Lula afirmou que o país vive “um momento difícil” e a unidade e a luta das centrais serão fundamentais para a reconstrução do país.
As centrais sindicais realizam a Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat-2022), no próximo dia 7 de abril, em São Paulo, quando apresentarão a Pauta da Classe Trabalhadora a todo o país. No 13, o documento será entregue ao ex-presidente para Lula, em uma reunião com os presidentes das centrais. para Lula, “é muito importante fazer com que as propostas, a pauta unificada da classe operária, sejam de conhecimento de toda sociedade”.
Na reunião da Direção Nacional da CUT nesta segunda, os dirigentes CUTistas lançaram a Plataforma da CUT para as Eleições 2022, documento que já se tornou uma tradição da Central desde 2010, e entregaram o documento para Lula.
As propostas da CUT são resultado de várias atividades realizadas pela Central, que, desde 2005 debate os temas de interesse da classe trabalhadora, elabora documentos e entrega para os candidatos – em todos os pleitos.
Acesse o conheça as propostas da Centra na Plataforma da CUT para as Eleições 2022
Propostas contra os ataques aos trabalhadores
Durante o evento, Lula destacou que as centrais devem elaborar as propostas de forma direta e objetiva sobre o futuro que a classe trabalhadora quer para si nos próximos anos. Ao enumerar os vários ataques sofridos pelos trabalhadores e pelo movimento sindical desde o golpe de 2016, contra a presidenta Dilma Rousseff, Lula deu uma injeção de ânimo na tropa indicando ações para que, se for eleito, possa recolocar o Brasil em uma rota de reconstrução social e econômica.
“Vivemos um momento difícil no Brasil. Teve o impeachment e não aconteceu outra coisa na vida do movimento sindical senão derrota atrás de derrota como as reformas [Trabalhista e da Previdência Social], o desmonte da Justiça do Trabalho, o desmonte das finanças dos sindicatos, o desmonte dos direitos trabalhistas que vinham sendo construídos desde 1943”, pontuou o ex-presidente.
Projeto deles é destruir direitos e a proteção social da classe trabalhadora
De acordo com avaliação do ex-presidente Lula, a ofensiva da extrema direita contra os direitos sociais e trabalhistas foi violenta a ponto de causar uma certa inércia nos trabalhadores. “Foram desmontando tudo e nossa capacidade de reação foi pequena porque o que os movimentos conservadores fizeram foi antecipado por uma campanha forte, de narrativa de negação de tudo o que era bom para nós”, disse Lula.
Tanto esses movimentos, aliado a campanha da mídia que falava à época, exaustivamente, que direitos como 13° e férias significavam custo e tiravam o poder de competitividade do Brasil em nível internacional, contribuíram com o desmonte que viria na sequência do golpe.
“Diziam que o Brasil não crescia e não exportava por que o custo era caro, mas nunca fizeram uma comparação entre o salário do trabalhador brasileiro com o salário de outros países”, disse se referindo a nações como Estados Unidos e França.
Essa ‘narrativa’, disse Lula, ganhou a consciência das massas que passou a ‘não ver sentido” no que o movimento sindical alertava – e alerta até hoje – de que o projeto de governo dos conservadores, em especial de Jair Bolsonaro (PL), é de destruir direitos e a proteção social da classe trabalhadora.
Empreendedor ou trabalhador explorado?
Um dos exemplos de como o poder de alienação da direita habita o imaginário da sociedade, dado por Lula, foi a máxima de que um motorista de aplicativo, o Uber, por exemplo, é um empreendedor, dono do seu próprio negócio e do seu próprio tempo.
Citando um outro exemplo, Lula provou porque não funciona. “Lembro de quando surgiu a internet, quantidade de jornalistas que achavam que iam fazer sucesso sozinhos nas redes sociais. Quantos conseguiram sobreviver? Quase ninguém”, disse explicando que grandes conglomerados sempre ‘tomam conta’ do ambiente e não como competir. Ao ‘pequeno empreendedor’, não sobra espaço, a não ser, como no caso do Uber, o de se submeter à exploração para conseguir minimamente sobreviver.
Portanto, para o e ex-presidente, a disputa principal nessas eleições será no sentido de combater esse tipo de discurso que, na eleição presidencial de 2022, será novamente arma principal da direita. E assim como em 2018, baseada em notícias falsas – as fake News.
Tem de reformular o Congresso
E, para isso, disse, além de uma mudança na forma com que se faz mobilização que deve ser de forma direta onde está o trabalhador, eleger não somente um governo progressista como reformular o que ele afirmou ser “pior congresso de todos os tempos”, é via de regra.
“Hoje tem tanta gente desempregada que não dá mais para fazer porta de fábrica, somente. A maioria dos trabalhadores que a gente representa está na rua. Então, se colocar um carro de som para denunciar e entregar material [informativo], vai fazer mais efeito do que ir para a porta de fábrica”, afirmou Lula.
Congresso Nacional
O ex-presidente criticou a atual composição da Câmara dos Deputados e do Senado ao alertar que é necessário que o trabalho de base nessas eleições seja, efetivamente, de dialogar sobre quais parlamentares devem ser eleitos para compor o Congresso Nacional.
“O que quisermos fazer terá de passar pelo Congresso. Se a gente não mudar o Congresso não dá para fazer as contrarreformas que precisamos. Se não tivermos número [maioria], não faz” disse Lula.
Mas não somente eleger deputados que representem os trabalhadores como cobrá-los é fundamental. “É uma eleição que a gente vai ter que colocar no papel o que a gente quer, mostrar para o candidato e se ele não assinar embaixo, não se comprometer, não vota nele”, disse Lula.
Polarização política
Desmistificando o conceito de que a polarização em disputas eleitorais é algo prejudicial, Lula foi cirúrgico ao afirmar que em toda a história sempre houve o embate de ideias opostas, No entanto, afirmou que preferias “estar polarizando com os Tucanos do PSDB, porque, pelo menos, seria mais democrático, ao contrário do ódio de Bolsonaro”.
A preocupação dele, disse Lula, “é destruir o que vier pela frente”.
E, nesse aspecto, Lula alertou que as eleições serão uma guerra e que a militância não deve aceitar provocações e sim, primar pela informação, o fato, a verdade, para conquistar os corações daqueles que ainda não se deram conta do desastre que é o atual governo.
Lula lamentou o número expressivo de desempregados, desalentados, e pessoas passando fome, que segundo ele, nunca se viu na história do país.
Luta da central
O ex-presidente Lula também destacou as iniciativas da CUT em criar as Brigadas Digitais da CUT e os Comitês de Luta em Defesa da Classe Trabalhadora.
“Precisamos estar mobilizados nas ruas e nas redes e as Brigadas são muito importantes – têm que ser prioridade”, disse Lula.
Para o presidente da CUT, Sérgio Nobre, as Brigadas e os Comitês são instrumentos de enfretamento ao ódio propagado pelo bolsonarismo. “Chegamos aqui por causa do pódio, do individualismo e não tem outra saída se não for por amor e solidariedade”, disse o dirigente.
E, para isso, ele prosseguiu, foram criados, foram criados os Comitês que serão espaços de diálogo e outras ações como distribuição de mantimentos para a população que mais precisa.
“Os comitês serão montados nos mais diversos espaços como locais de moradia, trabalho, escola porque no entorno dos do sindicato estão as comunidades passando fome.
________________________________________________________________________________________________________________________________________
LulaeleiçãoConclatplataforma da cut para as eleições 2022propostasplano de governo