Custo: R$ 35,9 mi

Direção da Eletrobras quer aumentar o próprio salário entre 150% e 500%

Remuneração mensal do presidente pode saltar de R$ 52 mil para R$ 300 mil. Já os conselheiros saem de R$ 5 mil para R$ 52 mil. E reajuste será retroativo a abril deste ano

Fernando Frazão / Agência Brasil

Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz | CUT

A direção da Eletrobras pode ganhar um presente de Natal que mais de 90% da população brasileira gostaria de receber, mas a chance de conseguir é quase nula: um reajuste de 500% a 150% na remuneração mensal e ainda retroativo a abril deste ano. O custo que a empresa deve ter para pagar esse reajuste é de R$ 35,9 milhões.

No caso do presidente da empresa, Wilson Pinto, seu salário pode subir de R$ 52 mil para cerca de R$ 300 mil – um reajuste de 500%. Já os conselheiros que hoje ganham pouco mais de R$ 5 mil podem chegar a receber R$ 60 mil. Atualmente, a remuneração da direção custa R$ 12 milhões.

Confira na tabela os reajustes salariais propostos

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No documento em que a Administração propõe à Assembleia de Acionistas a remuneração global dos Administradores, membros do Conselho Fiscal e dos Comitês de Assessoramento ao Conselho de Administração, os valores dos salários, que não contemplam os encargos referentes ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), são os seguintes:

  • R$ 35.905.159,55 para os Administradores, membros do Conselho Fiscal e dos Comitês Estatutários de Assessoramento ao Conselho de Administração, sendo:
  • R$ 30.511.963,99 para os membros da Diretoria Executiva;
  • R$ 2.877.437,44 para os Conselheiros de Administração;
  • R$ 489.198,60 para os Conselheiros Fiscais;
  • R$ 2.026.559,51 para os membros dos Comitês de Assessoramento ao Conselho de Administração;

A proposta será colocada em votação na Assembleia Geral da Eletrobras marcada para o dia 22 de dezembro, às vésperas do Natal. A ideia do conselho de administração é remunerar a direção baseada em ações da companhia, utilizando até 1,3% do capital social da Eletrobras para uso no programa de incentivo de curto e longo prazo. Confira a íntegra do documento aqui.

A desculpa da direção é a de que é preciso manter os atuais dirigentes na empresa depois da privatização, em junho deste ano, mas parte desses R$ 30 milhões sairão do bolso dos brasileiros, já que a União mantém mais de 40% de suas ações.

Esses milhões pagos são o preço a ser pago à direção pela privatização, já que o atual presidente da Eletrobras, Wilson Pinto,  estava no cargo quando começaram as tratativas de venda da estatal e trabalhou muito para que o negócio fosse concretizado, afirma o diretor do Sindicato dos Engenheiros do estado do Rio de Janeiro, Felipe Araújo.

“Wilson Pinto nunca escondeu sua insatisfação com o valor que ganhava, e ainda defende seu alto salário como meritocracia, sem, no entanto, levar em consideração que a Eletrobras teve um prejuízo recente. É o espólio do tesouro nacional”, diz Araújo.

No primeiro balanço inteiramente sob gestão privada, a Eletrobras apresentou prejuízo líquido de R$ 88 mil no terceiro trimestre deste ano. Em igual período de 2021, a empresa lucrou R$ 965 milhões.

Empresa vai fazer mais demissões

Enquanto a direção quer reajustes milionários, cerca de 20% dos trabalhadores e trabalhadoras podem deixar a empresa. Segundo Araújo, a Eletrobras quer diminuir o quadro funcional com um Plano de Demissão Consensual (PDC), oferecendo menos do que anteriormente , inclusive, retirando a proposta de manutenção do plano de saúde por três anos.

O engenheiro afirma ainda que essas demissões atingirão, principalmente, os mais antigos de Casa, que detêm o conhecimento energético do país, como ocorreu com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, Cepel. Segundo ele, a direção quer demitir quem tem capacidade técnica e não está dando nenhum prazo para que os cérebros da empresa repassem o conhecimento adquirido ao longo desses anos.

O discurso de meritocracia só vale para quem faz parte do time da direção porque para ela o trabalhador, que gera riqueza para a empresa, não tem valor

Felipe Araújo

“É um muito ruim ver pessoas que estão em pleno gozo de suas funções laborais quererem continuar contribuindo com a sociedade e serem descartadas desta forma”, conclui o engenheiro.

Lula quer reestatizar Eletrobras

Um dos itens que já constavam no plano do governo Lula (PT) na campanha eleitoral é a reestatização da companhia, que para o engenheiro elétrico da Eletrobras, Ikaro Chaves, que faz parte da equipe de transição do futuro governo, no setor de energia, é urgente e necessária.

“Essa é uma proposta de Lula e cabe à equipe de transição fazer um diagnóstico do setor energético do Brasil nas áreas de petróleo, gás, mineração e energia. Nossa função não é definir o processo de reestatização, mas propor medidas emergenciais”, explica.

O presidente eleito tem se posicionado contrário à privatização da empresa dizendo que “se a gente deixar privatizar a Eletrobras, se prepararem, porque as empresas não vão tomar conta apenas do preço da energia. Elas vão tomar a água dos nossos rios, e é capaz de não deixarem ninguém nadar mais (…)  Quem quiser se meter a comprar a Eletrobras, se prepare, porque vai ter que conversar conosco depois das eleições”. A declaração foi feita durante o ato pela soberania nacional em Porto Alegre (RS) no dia 1º junho.  

Enquanto a reestatização da Eletrobras não acontece, os brasileiros apertam o cinto para pagar as contas de luz.