“Cenários e desafios dos trabalhadores e do setor energético” é tema do primeiro debate do 6º Congresso do Sinergia CUT e 15º do Sinergia Campinas

Objetivo foi analisar e refletir sobre o novo momento democrático e progressista, que prioriza as pautas sociais, que valoriza o papel do movimento sindical e apontar caminhos para garantir avanços para a categoria

Pedro Amatuzzi

Débora Piloni

Começou na manhã desta sexta-feira (10), em Campinas, o 6º Congresso do Sinergia CUT e 15° Congresso do Sinergia Campinas que reúnem delegados e delegadas eleitos em assembleias e encontros regionais realizados em todo o estado de São Paulo.

O 6º Congresso marca os 25 anos de fundação do Sinergia CUT, projeto que unificou a luta de eletricitários e gasistas do estado de São Paulo em uma assembleia histórica realizada em 16 de novembro de 1997, com a aprovação de mais de mil trabalhadores energéticos paulistas. O 15º Congresso do Sinergia Campinas faz debate conjunto sobre cenários e desafios futuros para a categoria e para toda classe trabalhadora.

Os dois encontros têm como objetivos principais a aprovação de resoluções para avançar no projeto Sinergia CUT, o fortalecimento da organização sindical e a atualização do Estatuto das entidades.

A mesa de abertura pautou os “Cenários e desafios dos trabalhadores (as) e do setor energético”, tendo como convidados Prof. Dr. Márcio Pochmann, presidente do ILULA, e a Professora Dra. Clarice Ferraz da UFRJ e ILUMINA, com mediação de Artur Henrique Silva Santos, diretor da Fundação Perseu Abramo.

Claudinei Ceccato, presidente do Sinergia Campinas (Foto: Pedro Amatuzzi)

Carlos Alberto Alves, presidente do Sinergia CUT (Foto: Pedro Amatuzzi)

Para as direções das duas entidades, em tempos de retomada da democracia, esse debate é fundamental, uma vez que os grandes desafios do momento é a reconstrução nacional e a busca de direitos da classe trabalhadora.

“Temos uma grande responsabilidade. Passamos por uma pandemia, por um golpe, por uma eleição e agora temos que fazer uma grande mudança. E com união, foco, discussão, conscientização e trabalho, temos como fazer isso! Viva a ousadia e a capacidade da classe trabalhadora!”, afirmou Claudinei Donizeti Ceccato, presidente do Sinergia Campinas, na abertura do 15° Congresso.

“Um dos nossos deveres é colocar uma pauta social que melhore a vida de todos os trabalhadores e de todas as trabalhadoras. Temos de esperançar e intensificar a luta para continuar a nossa defesa intransigente dos direitos da categoria. Para que nossos filhos e netos vivam num mundo melhor. Esse congresso é importante para isso: para fortalecer a unidade e nos deixar recomeçar”, desafiou Carlos Alberto Alves, presidente do Sinergia CUT.

O Regimento Interno dos dois Congressos foi lido pela Secretária Geral Cibele Granito Santana e aprovado por todos os delegados e delegadas presentes! -

O Regimento Interno dos dois Congressos foi lido pela Secretária Geral Cibele Granito Santana e aprovado por todos os delegados e delegadas presentes!  (Foto: Pedro Amatuzzi)

 Cenários e desafios dos trabalhadores e do setor energético

Como mediador, Artur Henrique iniciou o debate com os convidados fazendo uma colocação referente ao papel da indústria no atual contexto, lembrando que o país está há 30 dias com um novo governo e que conta com uma frente ampla de 14 partidos, com visões e projetos de desenvolvimento diferenciados. A questão colocada foi: a indústria de energia elétrica, assim como outras, vive um processo de diminuição há anos. Neste novo e recente cenário, há espaço para fazer com que a indústria retome o seu papel? Ou estaríamos fadados a sermos uma grande fazenda?

Márcio Pochmann: “Temos uma oportunidade singular para a mudança, A hora é agora!” (Foto: Pedro Amatuzzi)

Márcio Pochmann começou sua explanação dizendo sobre a vitória eleitoral que, segundo ele, não representa uma vitória política. Mas, com esse novo contexto, há como mudar o rumo.

“Hoje, o Brasil tem como principal parceiro comercial a China. A maior parte dos nossos produtos são importados e vêm do Oriente. Há a necessidade da reindustrialização. Porque hoje somos um país com grandes oportunidades perdidas”, afirmou.

Com dados e números o professor mostrou que o Brasil tem grande capacidade de produção tecnológica e lembrou que foi a partir de 1990, com governo Collor, que isso foi quebrado. “A questão chave agora, e que o presidente Lula tem levantado, é a reindustrialização. Passar a produzir mais e importar menos. Isso é possível. A hora é agora. Temos uma oportunidade singular. Colocamos em Brasília alguém que tem ligação com a classe trabalhadora”, desafiou.

E Márcio Pochmann concluiu citando uma das falas de Franklin Roosevelt, um dos presidentes dos Estados Unidos Franklin, ditas quando foi eleito e encontrou com os representantes das entidades sindicais. “Espero que vocês se mobilizem e me pressionem. Se vocês não me pressionarem, o capital pressionará muito mais e eu vou ter que ceder”.

Clarice Ferraz: “Temos que fazer um trabalho regulatório forte e resgatar a Eletrobras”. (Foto: Pedro Amatuzzi)

A professora Dra. Clarice Ferraz, da Universidade Federal do Rio Janeiro, ao concordar com Pochmann, lembrou que as prioridades do presidente Lula são a reindustrialização, a retomada do emprego, o desenvolvimento econômico e social com sustentabilidade ambiental.

“Ele (Lula) vem abordando temas como as taxas de juros e a importância da Eletrobras para o país. E temos que lembrar que a energia é essencial para todas as demais indústrias. Então, temos que fazer um trabalho regulatório forte e resgatar a Eletrobras”, afirmou.

Mercado de trabalho e sindicalização

Os dois convidados foram desafiados a falar sobre a questão do mercado formal de trabalho e a baixa taxa de sindicalização e superar essa fragmentação nesse novo momento junto à classe trabalhadora e com a categoria energética.

Márcio Pochmann destacou que a Reforma Trabalhista fez aumentar o número de Sindicatos. Mais: a receita das entidades sindicais caiu e a das empresas subiu. Os processos trabalhistas reduziram em 50%, e os acordos diminuíram também.

Segundo ele, é preciso ter um olhar para a massa de trabalhadores que não está na massa do emprego capitalista. “Atualmente, 44% dos trabalhadores do nosso país estão em atividades de subsistência, ou seja, em economia popular. Não há identidade e representatividade. Precisamos mudar isso. Se não, corremos o risco de cair no sindicalismo da década de 30. Era forte, mas de uma minoria”, lembrou.

Clarice abordou a disputa de futuro com relação ao setor energético e afirmou que para mudar o rumo dessa indústria é preciso conhecer os desafios e transformações do setor. Ressaltou que se faz necessário ter muito orgulho do trabalho que se presta, porque é complexo, perigoso, estressante e tem desafios novos a cada dia e é preciso aprender sempre.

“Energia e sociedade. Tem que qualificar o Brasil para a transição energética. Para isso, tem que se qualificar o trabalhador. Ele precisa ser valorizado, reconhecido e inserido”, completou.

DEBATES CONTINUAM

Com toda as discussões da manhã e com o texto-base em mãos, os participantes do 6º Congresso do Sinergia CUT e 15° Congresso do Sinergia Campinas prosseguirão nesta tarde de sexta-feira com debates em Grupos. Os dois Congressos prosseguem até a tarde de amanhã (11). Aguarde mais notícias.