O vírus

Mandetta é demitido por Bolsonaro; Nelson Teich é o novo ministro da Saúde

Pesquisas indicam aprovação da população com atuação do ministro, que sai por defender o isolamento social atacado por Bolsonaro como meio de salvar vidas

Marcos Corrêa/PR

Cláudia Motta, da RBA

 
Com essas palavras o agora ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta anunciou via Twitter o fim da novela que levou à sua demissão. O oncologista Nelson Teich, recebido por Bolsonaro hoje (16) em Brasília, deve ser o novo ministro da Saúde.


Uma série de assuntos mais importantes, perderam espaço nas últimas semanas, enquanto ocorria a fritura de Mandetta, em tempos de pandemia do coronavírus.
O Brasil carece de leitos de UTI, faltam recursos para estados e municípios cuidarem dos seus doentes de covid-19, que se multiplicam em progressão geométrica. O país carece de respiradores para atender a demanda cada vez maior de brasileiros atingidos pelo coronavírus, faltam testes para avaliar a real dimensão da pandemia no Brasil.

No entanto, Mandetta sai por ter batido de frente com o presidente, que se recusa a aceitar o isolamento social como fundamental no combate ao adoecimento da população. Um dos poucos casos em todo o mundo, Bolsonaro segue cada vez mais isolado e vendo sua aprovação cair na proporção que sobe o número de mortos.
A saída de Mandetta é reprovada por 76,2% dos brasileiros entrevistados em pesquisa Atlas Político, enquanto a reprovação do desempenho de Bolsonaro segue crescendo.

Repercussão negativa

Para o ex-ministro Alexandre Padilha, Mandetta foi demitido pelos motivos errados, ainda que tenha contribuído, como deputado pelo Mato Grosso do Sul (DEM) para o desmonte da estrutura pública de saúde. “Espero que não tire mais o colete do SUS que passou a usar na pandemia”, disse o atual deputado federal (PT-SP).
O líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (RJ), criticou a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. “Desde o começo desta crise, Bolsonaro escolheu o caminho da negação e guiou suas decisões pelo achismo, politizando o que deveriam ser ações técnicas com critérios científicos”, disse. “A demissão de Mandetta não passa de um acerto de contas por parte de um chefe que, no auge de sua mediocridade, não tolera um auxiliar se destacando mais do que ele. Um comportamento irresponsável de quem está mais preocupado com sua reeleição do que em salvar as vidas dos brasileiros.”
Para Manuela D’Ávila, do PCdoB, o ministro da Saúde foi demitido por defender um consenso mundial: “o isolamento social como mecanismo para salvar vidas”.
Davi Miranda, do PSol, considera que Bolsonaro demitiu Mandetta por não ser um negacionista e seguir minimamente as orientações da OMS. “É a vaidade de um criminoso durante a pandemia falando mais alto que a estabilidade do plano fundamental: salvar vidas. O impeachment se consolida cada vez mais como necessidade!”, disse o deputado federal.
 
Por Cláudia Motta – da RBA