Solidariedade

Com crises sanitária, econômica e política, país tem desafios extras no 1º de Maio

Centrais sindicais fazem “live solidária” tentando diversificar leque político. Dezenas de artistas vão se revezar no “palco” virtual

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RBA

É considerado feriado nacional o dia 1 de maio, consagrado á confraternidade universal das classes operarias e á commemoração dos martyres do trabalho, estabelece, em português antigo, o Decreto 4.859, de 1924, assinado pelo então presidente, Arthur Bernardes. Período de revoltas, conflitos e censura à imprensa. O trabalho já produzia mártires, como agora, em tempos de pandemia de coronavírus. A crise sanitária fará com que o 1º de Maio desta sexta-feira seja virtual, pela primeira vez na história.
Mas deve ter “o mesmo vigor e expressar o mesmo compromisso histórico em relação aos interesses da classe trabalhadora”, define Sérgio Nobre, presidente da CUT, que organiza o evento ao lado de CGTB, CSB, CTB, Força Sindical, Intersindical, Nova Central, Pública e UGT. Duas centrais, CSP-Conlutas e outra Intersindical, organizarão evento virtual à parte.
Desta vez, o esforço foi feito no sentido de juntar no “palanque” forças políticas antagônicas, como PT e PSDB, representados pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Até ontem, estava prevista a participação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Criticada em alguns setores, a presença de alguns políticas é defendida como necessário para articular uma efetiva “frente ampla” contra Jair Bolsonaro.

A chamada “live solidária” das nove centrais, com apoio de movimentos sociais, tem um slogan que mistura temas trabalhistas e as crises da saúde e da política: “Saúde, Emprego e Renda. Em defesa da Democracia. Um novo mundo é possível”.
A partir das 11h30, o evento vai alternar apresentações artísticas (confira lista ao final do texto) e pronunciamentos de líderes sindicais, movimentos sociais, instituições, organismos internacionais, partidos e religiões. A transmissão será gerada pela TVT, e poderá ser acompanhada pela Rádio Brasil Atual e por aqui, na RBA.

Presenças

Entre os artistas, o cardápio será diversificado. Uma novidade é a presença do cantor e compositor inglês Roger Waters, ex-Pink Floyd. Em apresentações recentes no Brasil, ele já se manifestou contra o então candidato e agora presidente da República. Aliado do movimento social, o ator norte-americano Danny Glover vai encaminhar uma mensagem ao trabalhador brasileiro.
O evento terá homenagem a trabalhadores em serviços essenciais, como os da saúde e de aplicativos. Também será lançado uma nova etapa de campanha de solidariedade – o site é https://todomundo.org/. Quem quiser assistir às atividades poderá acessar links nos sites das centrais e por meio da TVT.

O principal evento trabalhista mundial, cuja origem remonta a 1886, a partir de uma greve em Chicago, nos Estados Unidos, encontra o Brasil com desemprego e informalidade em alta. E direitos reduzidos ou retirados com “reformas” como as trabalhista (2017) e da Previdência (2019), entre outras iniciativas oficiais, marcadas agora por sucessivas medidas provisórias que, a pretexto de preservar empregos durante a pandemia, mexem com normas legais na área social.
 

Ampliar o leque

Sem contar uma crise institucional protagonizada pelo presidente da República, ao estimular ao participar de atos que atacam os outros poderes e pedem “intervenção militar”. Por isso, dirigentes sindicais e de partidos consideram a necessidade de ampliar o leque de oposição.

É um desafio endossado pela professora da Universidade de São Paulo (USP) Angela Alonso, pesquisadora sênior do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Segundo ela escreveu em artigo recente, “a esquerda sozinha não fará verão”.
“Quando o longo inverno do isolamento acabar, quem, deste lado, quiser lotar a rua contra o presidente vai ter que engolir o ‘eu avisei’, para persuadir líderes liberais e conservadores”, escreveu. “Estes últimos, por sua vez, terão de engolir sapos – com barba ou sem – se quiserem salvar o Estado de Direito.” Para ela, o 1º de Maio será “um ensaio dessa concertação”.

Confira

Artistas que participarão, cantando ou mandando mensagens (em ordem alfabética):
Aíla
Aline Calixto
Bete Mendes
Bruno Ramos
Chico César
Danilo Ferreira
Danilo Mesquita
Danny Glover
Dead Fish
Delacruz
Dindry Buck
Dira Paes
Don Ernesto
Elisa Lucinda
Ellen Oleria
Fábio Assunção
Fernanda Takai
Filipe Catto
Francis Hime
Inez Viana
Kaê Guajajara
Leci Brandão
Lucas Afonso
Lucas Santtana
Marcia Castro
Mistura Popular
Odair José
Olívia Hime
Osmar Prado
Pally Siqueira
Paulo Betti
Preta Ferreira
Preta Rara
Roberta Estrela D´Alva
Roger Waters
Rosana Maris
Stéfano Ferraz
Taciana Barros
Wera MC
Zélia Duncan

 

 
Escrito por: RBA