Abandono

Bolsonaro repassa 30% dos recursos prometidos para combate à covid-19

Governo federal está devendo também ajuda que havia sido anunciada: só entregou 21% dos testes, 11% dos respiradores e 18% dos leitos de UTI

Mário Oliveira/Semcom-Fotos Públicas

Redação RBA

O governo Bolsonaro abandonou a população à própria sorte em meio à pior crise sanitária da história. Do total de R$ 29,5 bilhões prometidos aos estados para o combate à covid-19, repassou apenas R$ 8,5 bilhões. E não entregou ainda a maior parte da ajuda em termos de testes, respiradores e leitos em Unidades de Terapia intensiva (UTIs).
O Ministério da Saúde havia anunciado 46,2 milhões de testes para detecção da infecção pelo novo coronavírus, mas até agora entregou apenas 10 milhões (21%). Dos 14.100 respiradores anunciados, só foram entregues 1.612 (11%), e dos 3 mil leitos anunciados, apenas 540 (18%).
Os dados foram apresentados hoje (1º) pelo ex-ministro da Saúde e médico sanitarista Arthur Chioro, durante reunião do diretório nacional do PT.  “A omissão do governo é grave, porque deixa de lado medidas para manter um controle mínimo na gestão da crise de saúde”, disse, lembrando que, no último mês, foram realizados em média 4 mil testes por milhão de pessoas, o que é insuficiente para montar uma política pública de controle da doença.

Desdém

“O governo federal desdenha e o Ministério da Saúde está completamente ausente. Ou só tem atrapalhado, como quando apresentou o protocolo da cloroquina, para recomendar a adoção de um medicamento cuja eficácia ainda não foi assegurada pela Organização Mundial da Saúde”, afirmou Chioro.
O ex-ministro lembrou que o Brasil atravessa neste momento a 23ª semana epidemiológica da doença, que está em plena expansão em todo o país. E acusou o governo de inoperância, dificultando o acesso de governadores e prefeitos aos recursos financeiros para a compra de equipamentos para o enfrentamento da doença.

Afrouxamento

Chioro criticou duramente propostas de afrouxamento do isolamento social que estão sendo discutidas em diversas partes do país. Na sua avaliação, nenhuma região de saúde está em condição de reabertura imediata. “Países que organizaram exitosamente a abertura após lockdown ou isolamento sustentado tomaram essa decisão após a regressão da transmissão do vírus por duas semanas. Embora seja importante retomar o desenvolvimento econômico, o afrouxamento agora não faz sentido. O país não teve lockdown e a diminuição do grau de distanciamento social é evidente.”
E afirmou ainda que a gestão da crise no Brasil é feita “no escuro” por falta de testagem. E que a debilidade na resposta ocorre também por insuficiência de leitos e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Para ele, a flexibilização do isolamento com segurança deve obedecer aspectos técnicos. O dimensionamento deve ser regional, considerando as 438 regiões de saúde ou agregados regionais. O monitoramento e a decisão de flexibilização devem ser respaldados em informações baseadas em testagem em massa e estudos de soro-prevalência. E isso só depois que houver redução consistente da taxa de transmissão por 2 semanas (casos confirmados, suspeitos e internações por SRAG). Tem de haver também disponibilidade de leitos de UTI-Covid, ou seja, a taxa de ocupação não deve ser superior a 65%). Além disso, a Flexibilização do isolamento deve ser feita por setor/atividade econômica e a reversão das medidas deve ser feita conforme os resultados obtidos.
Do ponto de vista político, ele recomenda transparência, compartilhamento das decisões entre os governos estaduais em pactuação com os municípios, subsídios de um comitê de especialistas que funcione em caráter permanente,  a avaliação do Conselho Estadual de Saúde e a garantia de condições adequadas e seguras nos ambientes de trabalho e no transporte coletivo para a proteção dos trabalhadores.

Assista à participação do ex-ministro Arthur Chioro:

 

 
Escrito por: Redação RBA