Explicação

Transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, alerta OMS

Bolsonaro descontextualizou frase de chefe da organização para justificar fim do isolamento social

Jefferson Peixoto/Secom

'A frase da técnica da OMS foi triste, mas uso politico para relaxar o isolamento é genocida!", disse médico pneumologista

Redação RBA

São Paulo – A Organização Mundial da Saúde (OMS) explicou, nesta terça-feira (9), que a transmissão por casos assintomáticos de covid-19 está ocorrendo. “A questão é saber quanto”. A entidade internacional esclareceu fala da chefe do programa de emergências, Maria van Kerkhove, de que a transmissão do vírus por pacientes sem sintomas da doença parece ser “rara”.
A frase da especialista foi considerada ambígua e tirada de contexto por defensores do fim do isolamento social. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, usou a declaração para pedir a “reabertura mais rápida” das atividades econômicas e criticou o “pânico pregado por parte da grande mídia”. Mesmo com a curva de contágio pelo coronavírus ainda estar em alta e colocar o Brasil como epicentro da pandemia.
Entretanto, especialistas criticaram a postura de Bolsonaro. O médico pneumologista e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia Gestão, Fred Fernandes, explica que a declaração da OMS passou longe da interpretação feita pela ala bolsonarista, de que não o vírus não traz risco.
“A frase da técnica da OMS foi triste. A interpretação da imprensa foi infeliz. O uso politico para relaxar o isolamento é genocida!”, publicou Fernades nas redes sociais.

Assintomáticos

Ao analisar o tema da propagação do vírus, nesta segunda-feira (8), Maria van Kerkhove citava países com grande capacidade de testagem e rastreio. Além disso, em alguns casos, quando uma segunda análise dos supostos casos assintomáticas é feita, descobre-se que os pacientes tiveram, na verdade, leves sintomas da infecção.
A bióloga Natalia Pasternak Taschner, da Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), explica que a frase da chefe da OMS não foi uma declaração oficial baseada em estudo, mas uma resposta “infeliz”, durante coletiva de imprensa.
Além disso, a bióloga explica que há diferenças entre pressintomaticos de assintomáticos de covid-19. O primeiro grupo é formado por quem ainda não tem sintomas, mas acabam por desenvolve-los. Já o segundo é quem testam positivo, mas nunca chegam a desenvolver sintomas.
“Não se pode afirmar que assintomáticos não transmitem nem que certamente transmitem. Mas o que se pode afirmar com certeza é que uma declaração dessas, mal colocada e mal interpretada, tem o potencial de confundir ainda mais a população, que pode assumir que quem não tem sintomas e não precisa cumprir as medidas de distância ou uso de máscara”, lamentou ela.

 
Por Redação RBA