16ª Plenária da CUT

Brasil atingiu o mais fundo patamar de horror, afirma Dilma durante Plenária da CUT

Ex-presidenta diz que o golpe contra seu governo foi ato inaugural de processo que se desdobra com o fim dos direitos do povo

Roberto Parizotti (Sapão)

Rafael Silva, da CUT-SP

Sucateamento dos serviços públicos, destruição da legislação trabalhista e a degradação da liberdade sindical são, na avaliação da ex-presidenta Dilma Rousseff,  ataques sistemáticos à classe trabalhadora e a população mais vulnerável que fazem de uma agenda desejada e definida pelos que atuaram pelo fim de seu governo.

“Esta crise que começou com o golpe em 2016, cometido para enquadrar o país no neoliberalismo, foi apenas o ato inaugural do processo que teve como primeiro desdobramento o início da derrocada nos direitos do povo”, disse Dilma, nesta quinta-feira (21), no primeiro dia de debates da 16ª Plenária da CUT Nacional “João Felício e Kjeld Jackobsen”, cuja abertura oficial foi realizada na noite deste quarta-feira (20).

Para a ex-presidenta, no entanto, a atuação dos sindicatos impediram um cenário de crise pior, que já atinge altas taxas de desemprego e informalidade, segundo dados recentes do IBGE. 

“O movimento sindical é um exemplo de resistência contra o desemprego recorde, contra o desprezo aos direitos trabalhistas e contra a precarização no trabalho.”

Dilma Rousseff

“Em 2014, ano que antecedeu o início da sabotagem do meu governo e que levaria a fabricar o ambiente para o golpe de Estado, nós vivemos um período de pleno emprego, quando o índice médio de desocupação caiu para 4,8% na média do ano, o menor da história. Hoje há brasileiros vendendo sua força de trabalho por um prato de comida para si e seus filhos”, lamentou Dilma.

Na Plenária virtual, que ocorre até o dia 24 de outubro, Dilma participou da mesa intitulada “os desafios da classe trabalhadora na atual conjuntura e perspectivas futuras”, ao lado do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

O mote da Plenária “Organização e Unidade para Lutar – pela democracia, pela vida, contra os ataques aos direitos da classe trabalhadora –“, indica o objetivo final dos mais de 950 delegados e delagadas de todo o país, que é construir um plano de lutas em defesa da classe trabalhadora, contra carestia, pela geração de emprego decente e pelo fortalecimento da democracia brasileira.

Em sua fala, Dilma traçou um panorama da situação do país, contextualizando os passos que abriram caminho para o golpe, ocasionando na chegada de Jair Bolsonaro (ex-PSL) à Presidência da República e o desastre que tem sido o governo do ex-militar.

“O fato é que o Brasil atingiu o mais fundo patamar de horror, em uma escala nunca antes vista de desumanidade. (…) uma crise tão grave e dolorosa para a classe trabalhadora.”

Dilma Rousseff

A ex-presidenta afirmou que Bolsonaro segue empenhado na destruição do Estado como provedor da população em atendimento básico e bem-estar social, o que ficou mais evidente na falta de gestão durante a pandemia de Covid-19, que já matou mais de 604 mil pessoas no país, a maioria, disse Dilma, “causada pelo criminoso desprezo do governo Bolsonaro pela vida humana”.

“O Brasil vem afundando, aceleradamente, em forte retrocesso e atingindo uma situação de verdadeira desgraça sanitária, social, econômica e política”, afirmou.

“Uma catástrofe, que pode ser traduzida em enormes derrotas para o povo, como o aumento da pobreza extrema e a tragédia da volta da fome, que já havíamos superado”, acrescentou.

De acordo com Dilma, a inflação desenfreada dos alimentos e do gás de cozinha, resultam em um custo de vida incompatível com a renda mínima da população.

Eleições 2022

Para a ex-presidenta, mesmo com o reconhecimento geral do fracasso que tem sido o governo de Bolsonaro, os operadores do golpe – formados pelas elites empresariais – tentarão todos os caminhos para impedir o retorno da esquerda ao governo, ainda que tenha de voltar a apoiar o atual governo. “A opção a dita terceira via foi inviabilizada pela própria ascensão de Bolsonaro que capturou os votos da direita, um tiro no pé dado pela direita neoliberal que se aliou ao governo golpista de Michel Temer. Mas essa direita vai tentar construir um novo caminho e, caso se torne inviável, voltará apoiar o Bolsonaro e reacender o antipetismo”.

A ex-mandatária reforça que a população precisa permanecer atenta para o próximo passo das elites que segue insistindo na narrativa de reformas mesmo com a grande crise econômica que o Brasil enfrenta. “Não devemos nos enganar, pois estas mentiras continuarão sendo repetidas mesmo com o fracasso rotundo de Bolsonaro. As classes dominantes sabem que Bolsonaro fracassou e a mídia que a representa já sabe que perde para Lula ano que vem. Sabe disso e se desespera”.

Ainda sobre as eleições do próximo ano, Dilma disse que, mesmo com a possível vitória de Lula nas urnas, é preciso iniciar uma mobilização popular que sustente as transformações necessárias. “Devemos, desde agora, construir uma nova correlação de forças que nos assegure manter conquistas, para resistir a ataques e para sustentar o avanço que precisamos”, disse.

“Nunca devemos perder de vista quem somos e quem representamos, qual é a nossa história e o que queremos para o Brasil, e, definitivamente, nós não queremos o mesmo que a direita neoliberal quer.”

Dilma Rousseff

“Ir às ruas unir as forças progressistas é fundamental, mas é preciso acrescentar algo que vá além do grito ‘fora Bolsonaro’, dar maior ênfase à pauta anti-neoliberal que aponta para o futuro e amplia o diálogo com povo”, falou, completando mais a frente que isso só será possível com a participação dos movimentos populares.

“O povo espera de nós muito mais do que um ‘fora Bolsonaro’, espera a construção de um país que seja dele, com um Estado que o atenda em suas mais fortes necessidades. E essa caminhada não será possível sem os movimentos sociais e sindical, como a CUT, fortes”, finalizou Dilma.

*Edição: Marize Muniz

Escrito por: Rafael Silva, da CUT-SP