Juros Baixos Já!

Presidente da CUT critica prejuízos dos juros para a política industrial do país

Sérgio Nobre representou trabalhadores e trabalhadoras em reunião que definiu a retomada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI)

Divulgação

Para dirigente, políticas de desenvolvimento esbarrarão em juros estratosféricos

Escrito por: Luiz Carvalho | Editado por: Rosely Rocha

O presidente da CUT Sérgio Nobre, participou nessa quinta-feira (6), em Brasília, da 17ª reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), que marcou a sua retomada, após ser desativado em 2016, ano do golpe contra a ex-presidenta Dilma Roussef (PT). Durante o encontro, ele alertou que qualquer iniciativa para desenvolvimento do setor passa pela queda dos juros.

Ele lembrou que em encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na última quarta-feira (5), as organizações sindicais alertaram para a dificuldade em implementar medidas de desenvolvimento diante da taxa de juros de 13,75% imposta pelo Banco Central (BC).

Na ocasião, as centrais pediram a exoneração do presidente do BC, Campos Neto. “Dissemos que podemos ter a melhor política industrial e a melhor reforma tributária do mundo, mas com taxa de juros a 13,75%, obrigando o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], principal banco de fomento, a fazer empréstimos com essa taxa e mais o custo do banco, que chega a 21%, como vamos crescer?”, questionou.

“Exigimos que esse tema fosse tratado no Senado e o Pacheco afirmou que convocou o Campos Neto a estar dia 3 [de agosto] na Casa para uma sabatina. As centrais sindicais estarão lá”, prosseguiu.

Leia mais: Presidente do BC será ouvido pelo Senado sobre juro alto. Hora de elevar a pressão 

Política industrial

Nobre apontou ainda que nos últimos quatro anos não houve qualquer política industrial desenvolvida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), e isso resultou no aprofundamento da crise enfrentada pelo segmento. Em 1985, a indústria de transformação representava 36% do Produto Interno Bruto (PIB), índice que passou para 11% em 2021.

A queda preocupa porque o setor é responsável por ampliar a geração de empregos qualificados e promover o crescimento dos demais segmentos devido a cadeias produtivas longas. Além disso, sem uma indústria forte, o Brasil exporta mais matéria-prima, com valor mais baixo, e importa o produto pronto a um valor mais caro num processo que gera oportunidades de trabalho em outros países e prejudica o desenvolvimento nacional.

Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam ainda que a cada R$ 1 produzido na indústria de transformação, são gerados R$ 2,43 na economia como um todo. Como comparativo, na agricultura, o mesmo valor traz um impacto de R$ 1,75 e no comércio e serviços, R$ 1,49.

O dirigente da CUT falou também que a classe trabalhadora tem se debruçado sobre saídas para o setor por meio de iniciativas como a IndustriAll, que reúne centrais sindicais de todo o mundo com representação na indústria. Ele defendeu ainda a necessidade de iniciativas transversais com foco no desenvolvimento social.

“Esse país não tem saída se não houver uma base industrial muito forte e inovadora, mas a reindustrialização vai passar pelo combate às desigualdades e pelo tema ambiental, habitação e saneamento, que precisam de programas agressivos”, disse.

Debater a indústria

O CNDI foi criado em 2004 durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reúne 20 ministros, além do presidente do BNDES e 21 conselheiros representantes da sociedade civil, inclusive, da classe trabalhadora, que tem a CUT como uma de suas representantes.

O objetivo do conselho é retomar políticas industriais que promovam inovação e competitividade internacional, mas com inclusão socioeconômica, capacitação profissional, respeito ao meio ambiente e redução das desigualdades.

Durante a reunião de retomada, o governo anunciou a ampliação do programa “Brasil Mais Produtivo”, lançado em 2016 para oferecer consultoria às micro, pequenas e médias empresas brasileiras e a assinatura de Acordo de Cooperação Técnica para promover o desenvolvimento tecnológico e a ampliação da oferta de máquinas, implementos, equipamentos e tecnologias adaptados às necessidades da agricultura familiar.

O CNDI destacou ainda que a nova política industrial brasileira tem seis missões que devem ser cumpridas nos próximos anos:

– Promoção de cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar e nutricional;

– Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde;

– Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades;

– Transformação digital da indústria para ampliar a produtividade;

– Bioeconomia, descarbonização;

 – Transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as futuras gerações e tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais.

A expecativa é que, anualmente, sejam disponibilizados pelo governo federal R$ 26,5 bilhões em recursos, que ao final de quatro anos devem atingir R$ 106 bilhões aplicados no setor.