No Dia Internacional da Mulher, Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT promove evento que exige respeito à vida e brada: “Ele não!”

Palestra abordou o tema “A mulher brasileira em tempos de pandemia”. Uma homenagem à Deise Capelozza, presidente do Sinergia Gasista e que acaba de se aposentar fechou o evento e emocionou a todas e todos os presentes

Débora Piloni e Nice Bulhões

Palestra abordou o tema “A mulher brasileira em tempos de pandemia”. Uma homenagem à Deise Capelozza, presidente do Sinergia Gasista e que acaba de se aposentar fechou o evento e emocionou às trabalhadoras, aos trabalhadores e aos dirigentes do Sindicato

Por: Débora Piloni

“Ele não!”. Esse foi o título da atividade da manhã de segunda-feira, 08 de Março, promovida pelo Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Em respeito ao isolamento social devido à pandemia da Covid-19, o evento foi realizado de forma virtual, através da plataforma Zoom e também transmitido pelo facebook do Sindicato. O link para relembrar e assistir a toda essa programação especial é  https://fb.watch/472CbovH61/ .

Rosana Gazzolla, coordenadora do Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT. Foto: Roberto Claro

A atividade começou às 8h30 com uma abertura realizada pela coordenadora do Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT, Rosana Gazzolla Fávaro, que cumprimentou a todas e a todos os presentes e expôs o foco desse evento “A mulher brasileira em tempos de pandemia”, que vai ao encontro do mote “Pela Vida das Mulheres, Resistiremos: contra a fome, a miséria e a violência! Vacina para todas e todos já e Fora Bolsonaro”, lançado por mulheres CUTistas. Na semana passada, Rosana esclareceu detalhes sobre o tema. Para saber mais sobre o mote e ter acesso às artes produzidas pela CUT, clique aqui.

A Secretária da Mulher da CUT-SP, Márcia Viana, também cumprimentou a todas e todos os presentes e falou sobre esse dia:“Agradeço ao Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT por promover essa atividade importante de reflexão e debate em uma data tão importante. Bom lembrar que, há um ano, tivemos nossa última grande atividade antes da pandemia instalada, que trouxe um grande retrocesso ao nosso país, principalmente às mulheres, as mais prejudicadas com todas as medidas desse desgoverno e com pandemia. Vamos juntas lutar pela Vida das Mulheres. Vamos resistir contra a fome, a miséria e a violência! Vacina para todas e todos já e Fora Bolsonaro já!”, conclamou!

A mulher brasileira em tempos de pandemia

Na sequência, Rosana Gazolla passou a palavra para a palestrante do dia, a advogada Andrea Marques, mestranda da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) no estudo de Gênero, Feminismo e Mulheres (PPGNEIM) e embaixadora da Ecowomen (2021).

A palestrante do dia, a advogada Andrea Marques Foto: Roberto Claro

Ela iniciou sua apresentação afirmando sobre a importância e a complexidade do tema. Fez uma explanação sobre a questão do machismo e da opressão: “A opressão existe e acontece desde a pré-história. No início, as mulheres eram endeusificadas por gerarem vidas. Eram as deusas da fertilidade. Mas, ao longo da história, foi descoberto que a mulher não era a dona da vida. O sêmen do homem é que ‘geraria a vida’. Daí, a mulher perdeu a sua importância e passou a ser apenas um corpo para procriar. Um objeto. Um acessório do homem. E, daí em diante, homens passam a ser considerados superiores às mulheres”, contou Andrea.

E, segundo ela, tanto homens como mulheres, não há quem tenha escapado de uma educação machista. E ela citou exemplos práticos para ilustrar isso: “Os homens não precisam ir às ruas para pedir respeito apenas por serem homens. Já as mulheres têm que fazer isso. Nenhum homem perde o emprego porque é feio. A mulher sim. Os homens se sentem importantes apenas por serem homens. As mulheres se sentem desprezadas apenas por serem mulheres, por não terem determinadas qualidades que se exigem delas. Assim, crescem com baixa autoestima”, pontuou”.

De acordo com a palestrante, se as mulheres se encontram nessa situação até hoje, é porque, ao nascer, já foram colocadas num mundo preexistente. “Tudo isso já acontecia. Houve uma conformidade até aqui. Fomos apenas inseridas nesse mundo. É preciso de reflexões e debates como este que estamos tendo para fazer mudar”, considerou.

Sem igualdade não há respeito

Andrea explicou que o ser machista é aquele que se recusa a entender a igualdade de direitos e deveres entre os gêneros sexuais, favorecendo ou enaltecendo o sexo masculino sobre o feminino. Sendo assim, o exercício do machismo é comportamento de homens e de mulheres. “A mulher pode, sim, ser machista. Exemplo é quando pensa ou fala frases do tipo: ‘Ele faz melhor essa atividade porque é homem’, ou ‘Ela conseguiu essa promoção porque é mulher’. São frases extremamente machistas. Dessa forma, ora o opressor é o oprimido; ora o oprimido é o opressor”, concluiu.

A advogada foi além e pontuou tantas outras diferenciações que a sociedade impõe aos gêneros: as profissões tidas como femininas e masculinas; com relação à carga de supervisão no trabalho as  mulheres são muito mais vigiadas que os homens e suas opiniões profissionais nem sempre são levadas em consideração ou são mesmo desprezadas; as mulheres são as maiores vítimas dos crimes de assédio moral e sexual, entre tantos outros pontos. “É preciso acabar com isso. Faz-se necessário quebrar esses paradigmas!”, afirmou.

Mais do que apontar as questões existentes na sociedade com relação à posição da mulher, ela trouxe sugestões de como promover mudanças para prevenir problemas nos ambientes de trabalho, tais como: criar canais de comunicação eficazes para denúncias, dar treinamentos, palestras e cursos para o pessoal, estabelecer regras de conduta claras e, acima de tudo, respeitar o outro como seu igual. “Sem igualdade, não há respeito”, finalizou.

Abriu-se momento para debate e questões. Entre as inúmeras participações, o presidente do Sinergia CUT, Carlos Alberto Alves cumprimentou a todas as mulheres presentes ao evento e fez uma reflexão sobre a desconstrução do machismo: “Vivenciando o dia a dia com mulheres, percebo que pecamos muito com relação ao tratamento com elas. Aprendemos muito com todas e temos muito a reconhecer sobre seus valores. Peço desculpas pelas vezes em que não me envolvi nas lutas diárias travadas por essas guerreiras em casa, no trabalho, nas ruas. Lutas contra o machismo, o preconceito, o assédio, o feminicídio, as condições de igualdade de gênero, entre tantas outras. Quero aqui agradecê-las por nos ensinar através de suas batalhas diárias que não devemos deixar de sonhar”.

O presidente do Sinergia Campinas também falou às mulheres de todo o Sindicato: “Não basta ficarmos só na reflexão. Temos que fazer debate e buscar, nos ACTs e nas negociações gerais, inserir questões para melhorar a situação das mulheres. Assim, não iremos mais depender tanto do Poder Público para elaborar leis que garantam os direitos e melhorias a elas. Temos que agir”, afirmou.

Deise Capelozza, que passa o bastão da presidência do Sinergia Gasista no próximo mês de abril para Gilson de Souza, refletiu sobre a possibilidade de o Sindicato promover atividades e ações diversificadas, a partir da palestra de hoje, para desconstruir uma sociedade machista de comportamento misógino. Falando em Deise…

… HOMENAGEM À DEISE CAPELOZZA

Por: Nice Bulhões

Arte: Nice Bulhões

O Coletivo de Mulheres do Sinergia CUT homenageou, nesta segunda-feira (8), em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, uma precursora no setor energético de São Paulo, Deise Aparecida Capelozza, presidente do Sinergia Gasista neste último mandato (2018-2021), que vai até abril. Foram discurso, carta lida, flores e placa entregues e um vídeo produzido por Roberto Claro, com fotos de companheiras e companheiros de batalhas desses 26 anos de muita luta sindical. Afinal… ela merece!

Deise foi a primeira mulher a ser eleita para presidir um Sindicato do setor de energia no Estado. Foi ex-vice-presidente do Sinergia CUT e agora é 1ª secretária da entidade. Com cerca de 27 anos de profissão, trabalhando na Comgás e há 26 anos no mundo sindical, aposentou-se recentemente.

Mas, quem é Deise? O poeta e amigo Luis Ge escreveu, em 18 de novembro de 2017, o poema “Deise é meu nome, sobrenome Capelozza”.

“Dei-me ao luxo de pensar um mundo melhor para minha gente valiosa/Deitei-me na relva suave do verde da minha bandeira vaidosa/FENOMENAL/Deixei-me sonhar no azul do céu onde passa um avião cor-de-rosa/Dei-me à luta incansável pelos meus companheiros em verso e prosa/Deitei-me no asfalto quente combatendo tanta mente ardilosa/E NO FINAL/Deixei-me carregar pelo turbilhão de gente guerreira maravilhosa/Dei as costas às pessoas vis e suas manhas e convicções assombrosas/Deitei meu braço forte na cara de pessoas sórdidas cabulosas/DESCOMUNAL/Deixei de lado a utopia e parti para o exercício da prática nervosa/MEU BATOM É VERMELHO/MINHA PAIXÃO É VERMELHA/MEU CORAÇÃO É VERMELHO/Dei-me ao canto lustrando nota por nota sempre caprichosa/Deitei-me ao lado da arte, do cinema, do teatro e da bossa/Deixei-me invadir por sons, acordes, compassos, da vida melodiosa.”

Assista ao vídeo produzido em homenagem à companheira Deise Capelozza: